domingo, 23 de outubro de 2011

Laurentino Gomes - 1808


1808
Autor(a): Laurentino Gomes
Editora: Planeta do Brasil
Páginas: 408
Gênero: Geografia e História / História do Brasil

Sobre: A fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro ocorreu num dos momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil, de Portugal e do mundo. Guerras napoleônicas, revoluções republicanas, escravidão formaram o caldo no qual se deu a mudança da corte portuguesa e sua instalação no Brasil. O propósito deste maravilhoso livro, resultado de dez anos de investigação jornalística, é resgatar e contar de forma acessível a história da corte lusitana no Brasil e tentar devolver seus protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que desempenharam duzentos anos atrás. Escrita por um dos mais influentes jornalistas da atualidade, "1808" é o relato real e definitivo sobre um dos principais momentos da história brasileira.

Opinião: Bom, se você não tem paciência ou ainda não possui a competência de ler Varnhagen, Oliveira Lima, José Honório Rodrigues ou qualquer outro historiador, e só quer saber um pouco mais sobre o Brasil Colonial de 1808-1820 que é mostrado nos livros didáticos ou o pouco que é veiculado na mídia, seria muito interessante ler este livro.
Gravuras legais, linguagem simples e comentários interessantes do autor. O que mais gostei e ri foi a descrição da falta de higiene dos portugueses - principalmente do único banho de D. João e do próprio fazer suas necessidades fisiológicas ao ar livre e na frente de outras pessoas. Sem contar que foi muito estranho saber que os empregados o limpava após isso, enfim, tenho que parar de fazer anacronismos e julgar estranho o que era costume há dois séculos. Gostaria que o autor tivesse falado mais sobre os escravos e não tanto da família real e as conseqüências de sua fuga, mas foi válido saber o pouco que ele disse; fiquei muito sentida quando soube dos "Tigres", surpresa quando soube que já haviam "diaristas" há dois séculos. Conheci também alguns personagens importantes que os livros didáticos, pelo menos da minha época, não mostram como o Marrocos e a importância de suas cartas para investigações do período. 
Gostei bastante, serviu como uma introdução aos livros que terei que ler, antes ainda vou ler o 1822 e descobrir um pouco sobre a verdadeira independência. 

Quotes:


Nunca, em toda a história da humanidade, as monarquias européias tinham vivido tempos tão turbulentos e atormentados. Foi o período em que reis e rainhas eram perseguidos, destituídos, aprisionados, exilados, deportados ou mesmo executados em praça pública. Em resumo, era uma época em que os monarcas literalmente perdiam a cabeça. 
(pág 38 e 39)


A urina e as fezes dos moradores, recolhidas durante a noite, eram transportadas de manhã para serem despejadas no mar por escravos que carregavam grandes tonéis de esgoto nas costas. Durante o percurso, parte do conteúdo desses tonéis, repleto de amônia e uréia, caía sobre a pele e, com o passar do tempo, deixava listras brancas sobre suas costas negras. Por isso, esses escravos eram conhecidos como "tigres".
(pág 144)


Esses mergulhos improvisados na Praia do Caju, a conselho do médico, são a única notícia que se tem de um banho de D. João nos treze anos em que permaneceu no Brasil. Quase todos os historiadores o descrevem como um homem  desleixado com a higiene pessoal e avesso ao banho. "Era muito sujo, vício de resto comum a toda a família, a toda a nação", afirmou Oliveira Martins. "Nem ele, nem D. Carlota, apesar de se odiarem discrepavam na regra de não se lavarem". A relutância da corte portuguesa em tomar banho contrastava com os costumes da colônia brasileira, onde o cuidado com o asseio pessoal chamava a atenção de quase todos os viajantes que por aqui passaram nessa época.
(pág 152 e 153)


Era a malandragem brasileira fazendo mais uma de suas performances de gala nas páginas da história nacional.
(pág 190)


Uma curiosidade é que muitos alforriados chegavam a enriquecer e se tornavam proprietários de escravos, terras e outros bens.
(pág 227)


A proibição de acesso importa pelos portugueses tornava a colônia ainda mais misteriosa, devido aos rumores que circulavam na Europa sobre as imensas riquezas minerais escondidas no subsolo e as infindáveis florestas tropicais repletas de plantas e animais exóticos e índios que ainda viviam na Idade da Pedra.
(pág 231)


"Os habitantes estão mergulhados em grande ignorância e sua conseqüência natural: o orgulho."
(pág 238)


O clima de ressentimento dos portugueses em relação ao Brasil pode ser medido no panfleto assinado por Manuel Fernandes Thomaz, um dos chefes revolucionários de 1820, no qual atacava de forma preconceituosa os brasileiros. Thomaz definia o Brasil como "um gigante em verdade, mas sem braços nem pernas, não falando no seu clima ardente e pouco sadio, (...) reduzido a umas poucas hordas de negrinhos, pescados nas costas da África, os únicos e só capazes de suportarem os dardejantes raios de uma zona abrasada". O panfleto, que provocou indignação no Rio de Janeiro, perguntava que lugar D. João deveria escolher para morar - "a terra dos macacos, dos pretos e das serpentes, ou o país de gente branca, dos povos civilizados, e amantes do seu Soberano." E terminava dizendo: "Voltemos agora os olhos daquele país selvagem e inculto, cá para esta terra de gente, para Portugal!".
(pág 279)

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