sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

João José Reis, Flávio dos Santos Gomes e Marcus J. M. de Carvalho - O Alufá Rufino: tráfico, escravidão e liberdade no Atlântico Negro (c. 1822 - c.1853)

Foto: Maiara Alves



O Alufá Rufino: Tráfico, Escravidão e Liberdade no Atlântico Negro (c. 1822 - c.1853)
ISBN: 9788535917369
Autor(es): João José Reis, Flávio dos Santos Gomes e Marcus J. M. de Carvalho
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 520
Gênero: História do Brasil/Escravidão e Liberdade


Sobre: Nascido no antigo reino africano de Oyó, escravizado na adolescência por um grupo étnico rival, adquirido por traficantes brasileiros e levado para Salvador da Bahia, o protagonista destas fascinantes páginas da história do Brasil teve sua biografia dividida pelo oceano. A vida de Rufino José Maria foi plena de aventuras e desventuras. Após conseguir sua alforria, foi cozinheiro assalariado de navios negreiros e, na maturidade, tornou-se alufá, espécie de guia espiritual da comunidade de negros muçulmanos no Recife. O livro demonstra como o tráfico e a escravidão moldaram de modo decisivo este personagem e o mundo em que ele viveu.

Opinião: Um dos livros de Escravidão e Liberdade e História do Brasil mais fascinantes da nossa historiografia e uma das poucas produções bibliográficas que conseguem enaltecer de uma forma brilhante seu conteúdo. Tráfico e escravidão não são meu forte, na verdade não tenho condições emocionais alguma de estudar qualquer tipo de escravidão, principalmente a moderna, mas devido ao nosso ilustre historiador baiano, João José Reis, ainda lerei muitos livros sobre o tema - mesmo porque é necessário compreender essa passagem da nossa história. A forma como os autores contam o tráfico e a escravidão na primeira metade do XIX é incrível: a partir de resquícios de documentos que mostram os itinerários de um ex-escravo nagô que integra o comércio transatlântico de escravos, os autores investigam como se dava o tráfico no XIX, quando o governo inglês reprimia de todas as formas o tráfico e, consequentemente, a escravidão. Vemos também o relato incrível de uma empresa de tráfico ilegal de escravos, que burlava a vigilância e leis dos governos do Brasil e Inglaterra. A micro-história é uma das abordagens mais fascinantes e bem elaborada para se escrever história: é uma linguagem cinematográfica da escrita.

Publicado em 2010 pela Companhia das Letras, a biografia de Rufino e os relatos do tráfico, escravidão e liberdade na primeira metade do séc. XIX, foi escrita por três pesquisadores especialistas no assunto: João José Reis, Flávio dos Santos Gomes e Marcus J. M. de Carvalho que pesquisam o tema, especificamente, na Bahia, Rio de Janeiro e Recife, respectivamente - locais no qual Rufino deixou sua marca. O livro foi escrito sob a perspectiva da micro-história, uma abordagem que, a partir de um personagem ou um objeto específico, relata-se além de sua particularidade, o contexto sócio-histórico em que está incluso. É como se, a partir de uma garrafa/lata de coca-cola, além de contar a história de sua criação e "evolução", pode-se relatar também o imperialismo estadunidense, a crise de 1929, primeira e segunda guerras mundiais, guerra fria e parte da história econômica e ideológica do séc. XX, na qual a marca de refrigerante está inserida. O livro é dividido em três partes, onde a partir da saída de Rufino do Benim, na África (entre 1822-23), até sua estadia no Recife (1853), ou seja, aproximadamente 31 (trinta e um) anos dos itinerários de Rufino e do comércio transatlântico de escravos. 

Na primeira parte do livro, os autores relatam a saída de Rufino do Benim, no continente africano, sua chegada à Bahia durante as lutas pela Independência em 1822-23, sua ida para Porto Alegre onde é alforriado, assim como sua tentativa falha de estabelecer-se no Rio de Janeiro, onde se vê obrigado a integrar o tráfico negreiro como alternativa de fugir da repressão na província do Rio de Janeiro à escravos e ex-escravos nagôs. A segunda parte é a mais interessante e fascinante do livro, pois a partir dos itinerários de Rufino, os autores encontram peças de um enorme quebra-cabeça onde está registrada a existência de verdadeiras empresas de tráfico de escravos em plena luta jurídica e "bélica" inglesa pelo fim da escravidão. Após chegar ao Brasil como escravo, ser alforriado, trabalhar no tráfico de escravos entre o Brasil e a costa leste da África como comerciante e cozinheiro nas embarcações, Rufino retorna ao Brasil passando a atuar como Alufá, um guia espiritual do "afro-islamismo-brasileiro" em Recife, na terceira parte do livro. Fiz um resumo bem medíocre, obviamente o livro é muito mais grandioso no qual, a partir da minuciosa investigação dos historiadores, descobrimos o subterrâneo das relações sócio-econômicas que envolvia o Brasil, os países da costa leste africana e o tráfico transatlântico de escravos e comércio de especiarias. 

A obra é a ilustração do quão importante e fascinante é o trabalho do historiador. A partir dos relatos do interrogatório do apresamento da embarcação Ermelinda e das duas prisões de Rufino, os autores têm suas primeiras peças da vida de Rufino após sua chegada no Brasil e o comércio de escravos e especiarias dentro destes trinta e um anos. É um trabalho de investigação, uma peça aqui e ali, na qual com muita dedicação tenta-se reconstruir o mais fidedignamente possível uma das mais importantes páginas da história do Brasil e da África. O quebra-cabeças ainda tem muitos vácuos, mais vácuos do que peças completas, porém este trabalho é uma forma de incitar novos pesquisadores de tráfico negreiro, assim como mais abordagens utilizando a micro-história. Gostei mais que tudo desta última parte, da estrutura que os autores utilizaram para relatar suas investigações, me inspirou, na verdade a buscar sempre mais e mais fontes, mais leituras, etc. Sublinhei poucas passagens, pois o li para apresentar um seminário e não como costumo ler. 

Quotes

A década de 1820, sobretudo sua segunda metade, foi o momento de mais alto pico do tráfico para a Bahia no século XIX. (p. 35)
Como podes negar um amor quando dão testemunho dele contra ti provas irrefutáveis de lágrimas e esgotamento? O amor apaixonado lavrou duas linhas com pranto e moléstia. Sim, visitou-me à noite o fantasma daquela que amo e me deixou insone. O amor mescla prazeres com dor. (p. 58-59)  
O cozinheiro de um navio negreiro, em suma, era um dos principais responsáveis - talvez mais do que o cirurgião, quando existia um abordo - pela manutenção da taxa de sobrevivência dos cativos dentro de margens aceitáveis de lucro. (p. 102) 

Eu Vou Ler...

Foto: Maiara Alves

  1. Eric J. Hobsbawn - A Era do Capital (1848 - 1875) 
  2. Eric J. Hobsbawn - A Era dos Impérios (1875 - 1914)
  3. Luís Henrique Dias Tavares - História da Bahia 
Mais leitura para as férias. Era do Capital e Era dos Impérios, e pra completar a coleção só falta agora Era das Revoluções que, provavelmente, estarei lendo em pdf por causa de Hist. Contemporânea - uma das minhas próximas disciplinas. Ganhei do meu namorado História da Bahia, um resumão, na verdade, que abarca desde a conquista dos europeus até os dias atuais. Bom, muita coisa nessas férias. Nessas duas últimas semanas de dezembro vou tentar escrever sobre os livros que li e transcrever algumas avaliações que acho importante registrar aqui no blog.

sábado, 24 de novembro de 2012

Bill Condon - Breaking Dawn Part 2

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Breaking Dawn Part 2
Direção: Bill Condon 
Roteiro: Melissa Rosenberg
Ano: 2012/EUA
Gênero: Romance
Elenco: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Peter Facinelli, Elizabeth Reaser, Ashley Greene, Jackson Rathbone, Kellan Lutz, Mackenzie Fox, Lee Pace, Dakota Fanning, Maggie Grace, Michael Sheen

Sinopse: A felicidade dos recém-casados Bella Swan e Edward Cullen é interrompida quando uma série de traições e desgraças ameaça destruir o mundo deles. Após dar a luz a Renesmee, Bella desperta já vampira. Ela descobre que Jacob, seu melhor amigo, teve um impriting com a filha e passa a acompanhar seu rápido desenvolvimento. Bella não aceita esse fato no início, mas depois compreende e eles convivem em harmonia. Paralelamente, Aro elabora um plano para ter a agarota em seu poder, graças aos dons especiais que ela possui. 

Foto: Maiara Alves
OpiniãoO tempo passa. Mesmo quando isso parece impossível. Mesmo quando... Mesmo quando tudo isso parecia demorar uma eternidade para acontecer. Pois é, finalmente o desfecho da versão cinematográfica da história de Bella e Edward. Há quatro anos (mais precisamente 21.12.2008 ), quando os conheci e me apaixonei pela história, não imaginava que tudo passaria tão rápido e que minha própria vida mudasse tanto desde então. Twilight, antes de qualquer coisa, nos permite sonhar e acreditar no amor; Breaking Dawn é o felizes para sempre no qual todo o sacrifício e sofrimento fazem valer a pena.

Meu livro favorito é New Moon. Meu filme preferido, além de Twilight, é a parte I de Breaking Dawn. Eclipse, New Moon e a parte II foram os filmes que menos me agradaram - ao contrário dos livros, que amei todos. Bom, é bem nítido que a necessidade de uma segunda parte é pura ambição da Summit, mas para os fãs foi uma oportunidade de vizualisar com mais detalhes o último livro (mais detalhes que um filme de aproximadamente 115min para contar toda a história, pelo menos). Então Bella finalmente torna-se vampira e alcança o mesmo patamar que Edward (inicialmente, é até mais forte!), comprova junto com os Cullen e a matilha que estava certa quanto à sua Nessie, continua vendo seu pai mesmo na condição de vampira, enfim, vive o início de seu happy ending até que, como a vida não é fácil, os Volturi e toda a sua guarda dão o ar da graça em Forks tentando adicionar Cullens ao seu grupo. Dificuldades são superadas com amor, perspicácia, solidariedade, altruísmo e todas as virtudes que necessitamos para alcançar nosso próprio final feliz; e é esta, na verdade, a mensagem de S. Meyer e todas as histórias com finais felizes.

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Entre outras coisas, a felicidade após todo sofrimento em vida é a principal mensagem nesses quatro livros de S. Meyer. Todo o sofrimento e todas as dificuldades pelas quais Bella passou foram essenciais para a sua felicidade eterna, todo sofrimento pareceu justificável quando após sua morte, como um outro ser, a eternidade terna e plenamente feliz chegou. Isso é perceptível quando ela abre sua mente para Edward com todas as memórias deles, toda a luta, sofrimento e sacrifícios que vivenciaram até aquele momento chegar. Na verdade, espiritualmente falando, a obra é cheia de metáforas e seria necessário um livro para descrevê-las e discuti-las, mas antes de uma história sem noção de vampiros, os livros são sobretudo uma forma bem simples de mostrar que todas as formas de amor são sentimentos nobres e essenciais para uma vida eternamente feliz.

Foto: Maiara Alves
E assim, alegremente, continuamos aquela parte pequena e perfeita de nossa eternidade.

... e concluo mais um ciclo do meu próprio itinerário: era uma garota de16 anos quando
a história começou e hoje sou uma mulher de 20 anos  quando
esta termina. Sonhar, sempre.

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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Eu Vou Ler...

Foto: Maiara Alves
  1. Carlos Drummond de Andrade - Sentimentos do Mundo
  2. Mary Del Priore - Histórias Íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil
  3. Caio Prado Jr - Formação do Brasil Contemporâneo
Presentes do meu namorado para ler nas férias  (ou não, pretendo devorar o primeiro e o segundo ainda essa semana rs), todos os três já estava de olho há algum tempo. Sentimento do Mundo, da Companhia de Bolso, tem uma diagramação linda e tenho certeza que seu conteúdo é tao lindo quanto - e ainda uma foto linda do Drummond na capa. Histórias Íntimas é a história do jeito que eu gosto: a verdade nua e crua da vida privada demostrando que as coisas e o mundo sempre foram horríveis; mas nesse caso, o livro, é uma boa distração e uma forma de aprender histórias para contar para meus futuros alunos. Formação do Brasil Contemporâneo, assim como Raízes do Brasil e Casa-Grande e Senzala, são livros essenciais na estante de um historiador, mas além disso o quis por ser, antes de tudo, uma análise do Brasil sob a perspectiva marxista - da qual simpatizo muito.

sábado, 3 de novembro de 2012

Eu Vou Ler...

Foto: Maiara Alves
  1. Friedrich Nietzsche - Ecce Homo
  2. Erasmo de Roterdã - Elogio da Loucura
Saraiva de Bolso: a melhor forma de estudantes poderem adquirir clássicos! O primeiro, a autobiografia do filósofo mais pop atualmente; o segundo, um best-seller da literatura do século XVI. Li uma pequena biografia feita por um jornalista e sempre quis ler um livro de Nietzsche pra entender porque ele é tão cultuado, Assim Falou Zaratustra já passou diversas vezes pela minha mão e chegou a ir até a fila do caixa, mas desisti duas vezes e acabou ficando por lá mesmo. Sou apaixonada pela Idade Moderna, pelo Renascimento desde a 6ª série, acho o Humanismo inspirador e todas as produções literárias da época incríveis, Elogio da Loucura foi muito citado nos meus textos das aulas de Moderna e, como sempre, fiquei curiosíssima pra lê-lo.

domingo, 21 de outubro de 2012

Eu Vou Ler...

Foto: Maiara Alves
  1. Kátia Lorena Novais Almeida - Alforrias em Rio de Contas - Bahia - Século XIX
  2. Enoque Oliveira - Sarandita e outros contos históricos sobre a beleza e a luta na Guerra de Canudos
Livros novos, mas tempo pra lê-los não tenho. No último dia 10, a profª Ma. Kátia Almeida esteve lá na faculdade palestrando e divulgando sua dissertação de mestrado "Alforrias em Rio de Contas - Bahia - Século XIX", que foi transformada em livro pela Edufba, no ciclo de palestras Problematizando a História: debate com mestres e doutores realizado pela Coordenação do Curso de História da Unijorge; apesar de ter Escravidão, tema que não sou muito fã, tem Sertão e tô ansiosa pra ler (nas férias, provavelmente). Sou suspeita pra falar de "Sarandita", comecei a folhear e tive contato (e uma dedicatória linda) com o profº Enoque no Sertão de Canudos no Movimento Histórico e Popular de Canudos deste ano e fiquei mais maravilhada e mais segura quanto ao tema da minha pesquisa.
 
Bom, agora falta tempo...

domingo, 7 de outubro de 2012

Eu Vou Ler...

Foto: Maiara Alves
  1. E. L. James - Cinquenta Tons de Cinza
  2. Eric Hobsbawn - Era dos Extremos
Primeiros dois livros da minha biblioteca em conjunto com meu namorado, Matheus B. Na semana em que Hobsbawn parte pra pensar no mundo espiritual, meu professor preferido nos diz que está vendendo a quadrilogia mais famosa da historiografia universal e decidimos comprá-la, porém dois dias depois ele descobre que a ex-empregada roubou alguns de seus livros e entre eles estava os três primeiros da série: "Era das Revoluções", "Era do Capital" e "Era dos Impérios"; então, o que nos restou foi "Era dos Extremos". Bom, quanto ao famigerado "Cinquenta tons de cinza" estamos com sérias dificuldades de concentração e ainda não passamos da primeira página, mas a expectativa é grande.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Eu Vou Ler...

Foto: Maiara Alves
  1. Erivaldo Fagundes Neves (org) e Antonieta Miguel (org) - Caminhos do Sertão: Ocupação territorial, sistema viário e intercâmbios coloniais dos Sertões da Bahia
  2.  João José Reis, Flávio dos Santos Gomes e Marcus J. M de Carvalho - O Alufá Rufino: Tráfico, escravidão e liberdade no Atlântico Negro (c.1822 - c.1823)
  3. Erivaldo Fagundes Neves (org) - Sertões da Bahia: Formação social, desenvolvimento econômico, evolução política e diversidade cultural
A carga de leitura do curso aumenta a cada semestre e a cada semestre sinto que todo o tempo do mundo não é suficiente pra ler tudo que necessito. Inicialmente, meu tema de pesquisa seria alguma coisa relacionada com o Cinema Novo, mas o Sertão em si me emociona muito mais que os baianos e cariocas que apenas mostraram para nossa sociedade, na metade do século passado, o verdadeiro Brasil e os verdadeiros brasileiros. Bom, como ainda não decidi especificamente meu tema, resolvi começar com Sertões da Bahia, livro organizado pelo sertanista Erivaldo Fagundes Neves que aborda o tema desde a colônia até os dias atuais. Acabei encontrando, também do autor, Caminhos do Sertão e acabei comprando também. O Alufá Rufino, de João José Reis, Marcus J.M. de Carvalho e Flávio dos Santos Gomes  tenho que ler, resenhar e apresentar para um seminário da disciplina de Historiografia.

O irônico é que no início do curso reclamava que não tinha tempo para os meus livros (J. R. Ward, Rick Riordan, Scott Westerfeld...) e hoje só freqüento, quase que exclusivamente, as prateleiras de História das livrarias e bibliotecas.                 

domingo, 26 de agosto de 2012

Fernando Meirelles - 360

POSTAGEM ORIGINAL DE 26/08/2012.

Imagem: Reprodução
360
Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Peter Morgan
Ano: 2012/Reino Unido, Áustria, França, Brasil
Gênero: Drama
Elenco: Anthony Hopkins, Jude Law, Rachel Weisz, Ben Foster, Vladimir Vdovichenkov, Maria Flor, Lucia Siposová, Gabriela Marcinkova, Johannes Krisc, Dinara Drukarova, Jamel Debbouze, Juliano Cazarré

Sinopse: Inspirado em "La Ronde", clássica peça de Arthur Schnitzler, 360 é uma reunião de histórias dinâmicas e modernas, passadas em diversas partes do mundo. Laura é uma mulher que deixou a vida na terra natal para tentar a sorte em Londres ao lado do namorado Rui. Ao descobrir que o parceiro está tendo um caso com Rose, ela decide voltar para o Brasil. Na volta pra casa, ela ela conhece um simpático senhor e Tyler, duas pessoas em momentos difíceis em suas vidas. Num outro lado da história, Mirka é uma jovem tcheca quecomeça a trabalhar como prostituta para juntar dinheiro. Ao mesmo tempo, lida com a desaprovação da irmã Anna. O primeiro cliente de Mirka é Michael, que por sua vez é casado com Rose.

Foto: Maiara Alves

Opinião: Simplesmente o melhor filme do ano, até agora. Um círculo de pessoas intimamente interligadas que não fazem idéia do qual próximas são e de como seus atos interferem diretamente na vida destas. É o meu tipo de filme preferido, na verdade, e sou suspeitíssima pra falar de qualquer drama que envolva relacionamentos conjugais e extraconjugais bem fotografados e com uma trilha sonora incrível (que até agora não achei pra baixar, aliás). Sabia que 360 iria se tornar um dos meus filmes preferidos do gênero juntamente com Closer, Match Point, Unfaithful e outros.

Não sei por onde começar... bom, a quote inicial tenta definir mais ou menos o ritmo do filme: "Um Sábio disse uma vez, se existe uma bifurcação na estrada, siga-a. Ele só esqueceu de avisar que caminho escolher." Talvez não saibamos ou tenhamos a devida consciência do quanto as nossas (significativas ou irrelevantes) escolhas e atitudes interferem na vida daqueles que estão ao nosso redor e até de quem não estão, mas que, como o filme mostra, são diretamente afetados por elas. Um outro filme que ilustra, em parte, essa problemática é Match Point onde não só a sorte ou o acaso dita o destino, mas principalmente as escolhas baseadas ou não no caráter e na ética dos personagens. Mas o mais incrível mesmo é como a nossa vida está interligada à de "estranhos" e como estamos presos ou destinados a viver em circulos.

Imagem: Reprodução
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Mirka quase teve como cliente Michael, que é marido de Rose e Rose amante de Rui. Rui é namorado de Laura que, no caminho de volta pra casa, conhece Tyler e John. John esbarra com Tyler, que esteve ligado à Laura, e com Valentina que é casada com Serguei mas apaixonada por Argelino. Serguei, por sua vez, conhece Anna que é irmã de Mirka que quase foi cliente de Michael... é uma representação do que penso da vida: de que estamos presos em um grande círculo dentro de vários outros círculos que periodicamente se esbarram, se encontram, se repetem e que, não importa o quanto a gente mude ou o quão radicais sejam essas escolhas, nós sempre voltamos para o mesmo lugar e estamos fadados a repetir quase que totalmente o mesmo ciclo. Um bom exemplo disso é a própria História que não acontece de forma linear, em ordem e progresso, mas de forma complexa, com muitas permanências apesar dos dominantes buscarem enxergar falsas rupturas.

A trilha sonora e a fotografia são os aspectos mais incríveis - além da história - e é o que diferencia 360 e Closer dos poucos outros filmes que já vi do gênero. Espelhos, close-ups, uso de luz "natural", objetos fotografados e a fantástica e perfeita (não consigo parar de elogiar haha) trilha sonora só contribuem para contar a história desse círculo. Gostei de Fernando Meirelles em Ensaio Sobre a Cegueira  (único filme além de 360 dele que conheço) por causa da universalidade dos temas, e nesta produção ela é ainda melhor apresentada que no seu trabalho anterior pois, de início, não dá pra identificar onde as histórias se passam e esse fato, além de ilustrar bem os problemas de qualquer relacionamento em qualquer lugar do mundo, trouxe uma naturalidade à história e mostrou uma Europa muito mais interessante que a de Allen, por exemplo. Enfim, não vejo a hora de estudar filosofia e psicologia pra tentar descrever minhas teorias (e meus livros) sobre o homem/mulher em si - e não suas obras como Frebvre disse.

Ps: Anna estava lendo Anna Karenina quando conhece Serguei.
Ps²: Jude Law ♥.

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sábado, 25 de agosto de 2012

Breno Silveira - À Beira do Caminho

 Imagem: Reprodução
À Beira do Caminho
Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Ano: 2012
Gênero: Drama
Elenco: João Miguel, Dira Paes, Vinicius Nascimento, Ludmila Rosa, Denise Weinberg, Ângelo Antônio

Sinopse: Para fugir dos traumas do passado, o caminhoneiro João resolve deixar sua cidade natal para trás e cruzar o país. Ele dirige Brasil afora, sempre solitário, até que numa de suas viagens descobre que o menino Duda se escondeu em seu caminhão. Duda é órfão de mãe e está à procura do pai, que fugiu para São Paulo antes mesmo dele nascer. A contragosto, João aceita levá-lo até a cidade mais próxima. Entretanto, durante a viagem nascem elos entre os dois, que faz com que João tenha coragem para enfrentar seu passado.

Foto: Maiara Alves
Opinião: Road movie brasileiro que encanta e emociona, ao mesmo tempo que é original e cai nos clichês. Mais que brasileiro, filme quase unicamente baiano com o adorável João Miguel e o fofíssimo Vinícius Nascimento, tendo como locações as estradas asfaltadas baianas e as cidadezinhas (mui charmosas, por sinal) da Bahia. O ingresso vale pelo charmosíssimo João Miguel, pela trilha sonora e, principalmente, por contar uma história que fica na memória e faz questionar nossas escolhas.

Antes de qualquer coisa, vou alfinetar: deve dar um trabalho do caramba fazer road movie no Brasil. Com toda falta de estrutura das estradas, segurança, sinalização e etc., etc., a tentativa corre o risco do filme ser classificado pra categoria de ficção científica haha. De qualquer forma, achei que ficou bem original por mostrar superficialmente o popular brasileiro nos cenários, nas locações, nos objetos, nas frases de caminhão, na trilha sonora e outros aspectos. Em suma, seria quase original não fosse os clichês de final feliz, homem amargurado por escolhas e conseqüências desagradáveis do passado, a tentativa falha de tentar prender o expectador contando o passado aos poucos (não sei o nome técnico disso, só sei que Almodóvar é o único que faz isso sem parecer proposital). Mas apesar das pieguices da história, João Miguel parece ter nascido pra fazer o atormentado João. Sou suspeita pra falar dele, me apaixonei à primeira vista pela sua voz e sua barba em Xingu e, desde então, me disponho a ver e aplaudir qualquer coisa que faça haha.

O que faz o filme original, além de mostrar superficialmente o popular brasileiro no que concerne à vida ou rotina de um caminhoneiro nas estradas e cidades do interior do Brasil, é a trilha sonora absolutamente fantástica, simples e nostálgica à qualquer expectador brasileiro. É impossível não cantar junto pelo menos alguma das músicas - muito bem colocadas no decorrer do filme, por sinal - ou se identificar com o momento na história do filme onde ela é inserida. Simplesmente amei e espero ver mais trabalhos como este nas produções audiovisuais brasileiras, principalmente no cinema, uma vez que as telenovelas que contavam esses tipos de história hoje mudaram o perfil.

Imagem: Reprodução
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sábado, 18 de agosto de 2012

José Walter Lima e Carlos Vasconcelos Domingues - Antônio Conselheiro, O Taumaturgo dos Sertões

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Antônio Conselheiro: O Taumaturgo dos Sertões
Direção: José Walter Lima e Carlos Vasconcelos Domingues
Roteiro: José Walter Lima e Carlos Vasconcelos Domingues
Ano: 2012
Gênero: Drama
Elenco: Carlos Petrovich, Harildo Deda, Leonel Nunes, Wilson Melo, Álvaro Guimarães, Chico Drumond

Sinopse: Em 1897, o governo republicano enviou para Canudos três expedições do exército, derrotadas por Antônio Conselheiro. Na quarta expedição, o exército conseguiu exterminar quase toda a comunidade.

Foto: Maiara Alves
Opinião: (...) e ninguém que saber da História da Bahia dizia um homem de meia-idade à sua companheira ao subir pra sala número onze onde, até a última quinta-feira, estava sendo exibido o mais novo filme sobre o massacre de Canudos. O filme em questão quase não parece filme, comparado aos padrões atuais, mas vale o ingresso por contar um dos episódios mais marcantes da História da Bahia e do Brasil e, principalmente, por ter sido exibido em um shopping popular - apesar de não ter tido o mesmo público que o blockbuster exibido na sala ao lado.

Walter Lima e Vasconcelos Domingues conseguiram, com os poucos recursos e com todos os contratempos/problemas/imprevistos, transpôr em imagens uma visão interessante de Os Sertões, de Cunha, do massacre em si e do profeta, do idealizador: Antônio Conselheiro. Na primeira cena, vemos um homem falando eloquentemente sobre o sertão e as condições (a falta de) de vida nele. O interessante é que os diretores conseguiram, aparentemente, mesclar os dois primeiros capítulos de Os Sertões: "a terra" e "o homem"; o dito cujo se camufla na paisagem ilustrando a impressão que tive ao ler o livro, de não saber o quanto a terra interferiu no homem e o homem na terra. A primeira cena ilude quanto ao resto do filme que conta com péssimos atores, péssimo roteiro, péssima edição, defeitos especiais e várias falhas técnicas mas, quando tudo parece ir por água abaixo, uma personagem faz o público rir horrores com uma série de "e eu sei" em plena degolação de prisioneiro por membros do exército do governo.

Mas o bom mesmo, apesar de contar a passagem mais incrível e fascinante da História da Bahia/Brasil, é a imagem granulada e amarelada. A fotografia, em parte, também é interessante e, entre outras coisas que já citei, o filme peca também no figurino incoerente para o contexto e para a situação. Nesse ponto, o filme de Sérgio Rezende (1997) é mais coerente com a verdade. De qualquer forma, como disse, vale a pena conferir pra estimular a produção de filmes regionais sobre história regional, sobre nossa história, e por contar o episódio mais fascinante, incrível e apaixonante da Bahia. 

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução

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domingo, 12 de agosto de 2012

Euclides da Cunha - Os Sertões

Foto: Maiara Alves
Os Sertões
ISBN: 9788520925966
Autor: Euclides da Cunha
Editora: Nova Fronteira/Saraiva de Bolso
Páginas: 598
Gênero: História/Geografia

Sobre: Em estilo épico, Euclides da Cunha criou uma das obras-primas da literatura brasileira, descrevendo as batalhas entre os homens liderados pelo beato Antônio Conselheiro e as tropas do governo. Euclides, testemunha ocular da chamada Campanha de Canudos, narra a luta, observa a terra e analisa o homem num belo relato que destaca a determinação do sertanejo e busca compreender o fenômeno da liderança exercida por Conselheiro sobre milhares de pessoas.

Opinião: O ano é 1987. O carioca Euclides da Cunha é enviado pelo jornal paulista, O Estado de São Paulo, para acompanhar o conflito de Canudos, aqui na Bahia. O engenheiro, jornalista, professor, ensaísta, historiador, sociólogo e poeta talvez não soubesse que esse trabalho resultaria em um dos melhores livros da literatura brasileira e que marcaria seu nome para sempre na História do Brasil. Este fato ilustra a noção que defendo com vigor: nada é por acaso. Mas acima de tudo, Os Sertões apresentou ao Brasil o sertanejo, o homem que foi guardado pela condição de seu meio, pela natureza, e que representa a verdadeira nacionalidade brasileira.

Dividido em oito capítulos ("A terra"; "O homem"; "A luta"; "Travessia do Cambaio"; "Expedição de Moreira César"; "Quarta expedição"; "Nova fase da luta"; "Últimos dias"), Cunha descreve não só a Campanha de Canudos, como também a terra e o homem que o centro político-econômico do Brasil recém inaugurada República ignorava até então. É um registro das consequências que o golpe republicano causou nos grupos sociais, onde a nova situação do país apenas agravaram-lhe o sofrimento causado pela situação climática. Entre outras coisas, é também uma aula de português: a escrita de Euclides da Cunha é impecável e, para o leitor atual, rende uma quantidade vergonhosa de consultas ao dicionário. Há inúmeras discussões e análises ao longo dos cento e doze anos em que o livro foi para as prateleiras de livrarias e bibliotecas (e para as nossas), cada qual de acordo com o assunto em pauta do momento, a política vigente e a orientação e interesse político-ideológico de quem o analisa. Destaco, obviamente, o segundo capítulo, "o Homem", no qual Cunha descreve as interferências do clima, da terra, da situação política, da colonização e povoamento e do sertão em si, no homem que habita esta terra inóspita.

O sertanejo é, antes de tudo, um forte (p. 118). É uma das citações mais famosas e tem sido muito utilizada este ano por conta do centenário de nascimento de Luiz Gonzaga. Mas há cento e dez anos, Euclides da Cunha, a partir da observação do genocídio ocorrido em Canudos, assim descreveu o homem que sobrevivia [nos] dias claros e quentes, dos firmamentos fulgurantes, do vivo ondular dos ares em fogo sobre a terra nua (p. 139) esquecido desde o início por seus governantes e pelo resto do mundo. Esquecido pois, desde seu povoamento ainda no século XVI, o local que atualmente denominamos de sertão, foi utilizado e "povoado" com o objetivo de expandir a criação de gado que alimentaria a população do litoral e que tinha grande serventia no cultivo da cana-de-açúcar. Sabemos que nosso país não foi descoberto e que haviam povos em todo o continente com cultura e modo de vida próprios, e para a criação de gado, assim como no litoral para o cultivo da cana-de-açúcar no século XVI e XVII, milhões desses povos foram cruelmente assassinados por causa da acumulação de capital que enriqueceu a metrópole e seus aliados e que nos empobreceu e resultou nessa vida miserável. Dois séculos depois, Euclides da Cunha documenta em Os Sertões o modo de vida do homem resultado da miscigenação entre os povos originários (os "índios), o africano que criou o gado e cultivou a cana e o colonizador: o sertanejo é consequência da mistura entre o algoz, a vítima e fruto da natureza cruel.

Assim como os povos originários (os "índios") foram assassinados nos séc. XVI e XVII no povoamento do interior do país, do sertão, os sertanejos que sofriam com a seca e com o esquecimento das instituições governamentais, e decidiram seguir aquele que lhes profetizava um país melhor, Antônio Conselheiro, também foram dizimados no fim do séc. XIX em prol dos interesses daqueles que deveriam lhe proteger, em prol do Estado. As coisas realmente não mudam, permanecem de fato com pouca diferença. Além de descrever a miscigenação do sertanejo, ainda nos moldes do darwinismo social, Cunha observou que esse povo é antes de tudo, forte, pois em meio ao abandono, a agressividade do meio ele resiste e luta bravamente até seu limite. A descrição do homem e da terra é apaixonante, não tem nada de pomposo - e se assim parece, considero que o esmero é por afeição específica à este trabalho.

É um clássico, nem se eu passasse o resto da vida lendo e escrevendo sobre essa obra de Cunha e sobre o próprio autor não conseguiria fazer uma análise satisfatória de ambos, mas o recomendaria sobretudo àqueles que tem curiosidade sobre a formação da nacionalidade brasileira e pra desconstruir a colonização cultural da qual somos vítimas. O sertão é apaixonante, os sertanejos são a essência do nosso povo e espero que um dia todos percebam a importância e dêem o merecido valor à eles.

Quotes
Delinearam-nos os que se afoitaram primeiro com as vicissitudes de uma entrada naquelas bandas. E persistem indestrutíveis, porque o sertanejo, por mais escoteiro que siga, jamais deixa de levar uma pedra que calce as suas junturas vacilantes. (p. 29)
Nem um verme - o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria - lhe maculara os tecidos. (p. 43)
Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estoneia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o trai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobrase-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto isolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante... (p. 50)
É a árvore sagrada do sertão. Sócia fiel das rápidas horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros. Representa o mais frisante exemplo de adaptação da flora sertaneja. (p. 57-58)
E o sertão é um paraíso... (p. 59)
E o sertão é um vale fértil. É um pomar vastíssimo, sem dono. (p.62)
Vinham esparsas, parceladas em pequenas levas de degregados ou colonos contrafeitos, sem o desempenho viril dos conquistadores. (p. 95)
O meio atraía-os e guardava-os. (p. 105)
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. (p. 118)
A luta pela vida não lhe assume o caráter selvagem da dos sertões do Norte. Não conhece os horrores da seca e os combates cruentos com a terra árida e exsicada. Não o entristecem as cenas periódicas da devastação e da miséria, o quadro assombrador da absoluta pobreza do solo calcinado, exaurido pela adustão dos sóis bravios do equador. Não tem, no meio das horas tranquilas da felicidade, a preocupação do futuro, que é sempre uma ameaça, tornando aquela instável e fugitiva. Desperta para a vida amando a natureza deslumbrante que o aviventa; e passa pela vida, aventureiro, jovial, diserto, valente e fanfarrão, despreocupado, tendo o trabalho como uma diversão que lhe permite as disparadas, domando distâncias, nas pastagens planas, tendo aos ombros, palpitando aos ventos, o pala inseparável, como uma flâmula festivamente desdobrada. (p. 121)
Atravessou a mocidade numa intercadência de catástrofes. Fez-se homem, quase sem ter sido criança. Salteou-o, logo, intercalando-lhe agruras nas horas festivas da infância, o espantalho das secas do sertão. Cedo encarou a existência pela sua face tormentosa. É um condenado à vida. Compreendeu-se envolvido em combate sem tréguas, exigindo-lhe imperiosamente a convergência de todas as energias. Fez-se forte, esperto, resignado e prático. Aprestou-se, cedo, para a luta.  (p. 122)
A terra é o exílio insuportável, o morto um bem-aventurado sempre. (p. 145)
Espécie de grande homem pelo avesso, Antônio Conselheiro reunia no misticismo doentio todos os erros e superstições que formam o coeficiente de redução da nossa nacionalidade. (p. 177-178)
Ao passo que as caatingas são um aliado incorruptível do sertanejo em revolta. Entram também de certo modo na luta. Armam-se para o combate; agridem. Trançam-se, impenetráveis, ante o forasteiro, mas abrem-se em trilhas multívias, para o matuto que ali nasceu e cresceu. E o jagunço faz-se o guerrilheiro-tugue, intangível... As caatingas não o escondem apenas, amparam-no. (p. 234)
O exército sente na própria força a própria fraqueza. (p. 238)
Cercam-lhe relações antigas. Todas aquelas árvores são para ele velhas companheiras. Conhece-as todas. Nasceram juntos; cresceram irmãmente; cresceram através das mesmas dificuldades, lutando com as mesmas agruras, sócios dos mesmos dias remansados. (p. 239)
Quase sempre, depois de expugnar a casa, o soldado faminto não se forrava à ânsia de almoçar, afinal, em Canudos. Esquadrinhava os jiraus suspensos. Ali estavam carnes secas ao Sol; cuias cheias de paçoca, a farinha de guerra do sertanejo; aiós repletos de ouricuris saborosos. (p. 322)
A correria do sertão entrava arrebatadamente pela civilização adentro. E a guerra de Canudos era, por bem dizer, sintomática apenas. O mal era maior. Não se confinara num recanto da Bahia. Alastrara-se. Rompia nas capitais do litoral. O homem do sertão, encourado e bruto, tinha parceiros por ventura mais perigosos. (p. 346)
E os infelizes baleados, mutilados, estropiados, abatidos de febres, começaram a viver da esmola incerta dos próprios companheiros...  (p. 417)
E sobre tudo aquilo uma monotonia acabrunhadora... A sucessão invariável das mesmas cenas no mesmo cenário pobre, despontando às mesmas horas com a mesma forma, davam aos lutadores exaustos a impressão indefinível de uma imobilidade no tempo. (p. 423)
Há nas sociedades retrocessos atávicos notáveis; e entre nós os dias revoltos da República tinham imprimido , sobretudo na mocidade militar, um lirismo patriótico que lhe desequilibrara todo o estado emocional, desvairando-a e arrebatando-a em idealizações de iluminados. A luta pela República, e contra seus imaginários inimigos, era uma cruzada. Os modernos templários se não envergavam a armadura debaixo do hábito e não levavam a cruz aberta nos copos da espada, combatiam com a mesma fé inamolgável. (p. 446)
Torturavam-nos alucinações cruéis. A deiscência das vagens das caatingueiras, abrindo-se com estalidos secos e fortes, soava-lhes feito percussão de gatilhos ou estalhos de espoleta, dando a ilusão de súbitas descargas de alguma algara noturna repentina (...). (p. 460)

domingo, 29 de julho de 2012

Leandro Narloch e Duda Teixeira - Guia Politicamente Incorreto da América Latina

Foto: Maiara Alves
Guia Politicamente Incorreto da América Latina
ISBN: 9788580441055
Autor: Leandro Narloch e Duda Teixeira
Editora: LeYa
Páginas: 320
Gênero: História

Sobre: Tudo neste livro é contra as regras batidas com as quais se conta a história da América Latina. Não nos sentimos representados por guerrilheiros ou por indignados líderes andinos e suas roupas coloridas. Não há aqui destaque para veias abertas do continente, mas para feridas devidamente tratadas e curadas com a ajuda de grandes potências. Conhecemos bem as tragédias que nossos antepassados índios e negros sofreram - mas, honestamente, estamos cansados de falar sobre elas. E acreditamos que todos os povos passaram por desgraças semelhantes, inclusive aqueles que muitos de nós adoramos acusar.

Opinião: Sabe quando você espera algo de um livro e ele te desaponta totalmente? Guia Politicamente Incorreto da América Latina apesar de ter uma boa capa, um título interessante e ser bonito esteticamente é uma grande porcaria por caluniar alguns dos principais personagens históricos da América Latina. Senti nojo, na verdade, por ter sido escrito por dois brasileiros, e o pior é que não posso culpá-los de serem jornalistas - uma vez que estes são péssimos escrevendo história -, pois o livro que eles criticam constantemente, As Veias Abertas da América Latina, foi escrito por um grande jornalista, Eduardo Galeano. 

Os autores escolheram os principais personagens históricos desde a América pré-Colombiana, com os nativos Astecas, Incas e Maias, e seguiram até os dias atuais, com o ex-presidente do Chile, Salvador Allende (e as inúmeras referências tendenciosas à Hugo Chávez). Ao todo, as vítimas são: os Astecas, Incas, Maias, Simón Bolívar, os Revolucionários Haitianos, Perón, Evita, Pancho Villa, Salvador Allende e Che Guevara - este último é o foco dos autores que prepararam um verdadeiro dossiê com todos os supostos comportamentos que contradizem tudo aquilo pelo que o argentino lutou e o que sua imagem hoje representa. Mas o que esses personagens têm em comum que incomodaram tanto esses dois jornalistas a ponto de escreverem um livro caluniando-os? Bom, além de todos eles terem lutado em favor do território político no qual estamos incluídos - a América Latina - em prol de uma sociedade igualitária, ambos são jornalistas da Veja. Pois é. 

Analisando superficialmente, todas estas figuras históricas buscaram defender bélica, política e ideologicamente a América Latina da colonização espanhola, do imperialismo britânico e estadunidense, e dos demais países que, ao longo de cinco séculos, sugam e sugaram nossas riquezas materias, mão-de-obra e nossa gente no sentido ideológico. Estes personagens não foram santos, mas os autores, baseando-se em biografias tendenciosas, enaltecem os erros e qualquer brecha em seus intinerários que permitem tais afirmações. Como disse, ambos os autores trabalham/trabalharam ou possuem vínculos com a Veja: fato que pode ser considerado como metade da resposta. A outra metade está nas fontes. Para escrever história é necessário analisar todas as fontes sobre determinado evento/processo/pessoa, todas as fontes documentais mesmo. Por isso, os livros sérios de história retratam apenas um "curto" período, geralmente 20/30 anos ou até 100. Se a análise de todas as fontes do período relatado não acontecer, entre outras coisas, corremos o risco de sermos imparciais e conseqüentemente de escondermos determinadas informações. O Guia Politicamente Incorreto da América Latina além de ser extremamente tendencioso, é muito simplório e ridículo ao utilizar biografias também tendenciosas para escrever sobre os homens e mulheres que tentaram defender a América Latina, território tão marginalizado e explorado.

Ao escrever história, além de termos de nos preocupar em ler todas as fontes, buscar a imparcialidade e reconstituí-la o mais fidedignamente possível ainda temos de lidar com a problemática da manipulação da memória. Em História e Memória, o historiador medievalista francês Jacques Le Goff relata que os documentos que usamos como fontes, suas informações, não são inocentes: são manipulados em favor dos grupos sociais dominantes. Acho que já me fiz entender. O Guia Politicamente Incorreto da América Latina foi escrito para exaltar o imperialismo e a exploração do território no qual estamos inclusos, com o objetivo de escancaradamente caluniar os homens e mulheres que pelo menos tentaram defender esta terra da inescrupulosidade do capitalismo, dos homens "liberais" a fim de atender aos interesses dos grupos dominantes, como sempre!

Deste aglomerado de palavras que não dizem coisa com coisa, aprendemos que é preciso buscar o máximo de informação possível  e não nos contentarmos com aquilo que está escrito. Precisamos questionar e desconfiar de tudo! De tudo meeesmo. Quanto a América Latina, ou qualquer livro sobre a história de qualquer continente/território/político, ou qualquer outra coisa relacionada à história, recomendo livros de historiadores, e mesmo assim de historiadores de diversas orientações políticas/ideológicas, por favor desconfiem do que nós dizemos também.


As pérolas/piadas Quotes
Che Guevara, ídolo dos jovens rebeldes e pacifistas, não só considerava o ódio um sentimento nobre como agiu para que houvesse uma guerra nuclear na América. (p.48)
No bom, velho e tão criticado capitalismo democrático, as pessoas estão livres para fazer da vida o que acharem melhor, inclusive errar. (p. 72)
Que democracia? Que liberdade? E a escravidão ideológica? Que mer#@!
Ainda hoje, a narrativa dos cruéis conquistadores alimenta discursos indignados, emociona e revolta o público no cinema. E elege presidentes. (p. 84)
A julgar pela ditadura que a Venezuela se tornou nos últimos dez anos, é razoável acreditar que, sim, Simón Bolívar, senta ali todos os dias. Mais vivo do que nunca, dá seguidos conselhos catastróficos a Hugo Chávez. (p. 150)
Preocupado em moldar a mente da população, o peronismo também alterou os livros didáticos. (p. 215)
E vocês alterando a história kkkkk.
 

quinta-feira, 26 de julho de 2012

George Orwell - 1984

Foto: Maiara Alves
1984
ISBN: 9788535914849
Autor: George Orwell
Tradução: Alexandre Hubner e Heloisa Jahn
Editora (Br): Companhia das Letras
Páginas: 414
Gênero: Literatura Estrangeira/Romance

Sobre: 1984 é uma das obras mais influentes do século XX, um inquestionável clássico moderno. Publicado em 1949, quando o ano de 1984 pertencia a um futuro relativamente distante, tem como herói o angustiado Winston Smith, refém de um mundo feito de opressão absoluta. Em Oceânia, ter uma mente livre é considerado crime gravíssimo, pois o Grande Irmão (Big Brother), líder simbólico do Partido que controla a tudo e todos, "está de olho em você." No íntimo, porém, Winston se rebela contra a sociedade totalitária na qual vive: em seu anseio por verdade e liberdade, ele arrisca a vida ao se envolver amorosamente com uma colega de trabalho, Júlia, e com uma organização revolucionária secreta.

Opinião: Foi um dos livros mais incríveis que já li até hoje e sabia que me marcaria mesmo antes de lê-lo. Por ser publicado originalmente em 1949, 1984, do britânico Eric Arthur Blair (nome original de Orwell), parecia um futuro distante, ficção de fato. Mas poucos livros retrataram tão bem e tão fidedignamente a nossa sociedade. 1984 é os anos 1920, 1930, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1990, 2000 e, infelizmente, ainda, os anos 2010 no sentido político-ideológico. Orwell pensou, especificamente, o pós-guerra e o início da Guerra Fria, ainda não cheguei lá (acabei de sair da Idade Média), mas no geral podemos dizer que o livro retrata todo o século XX e início do XXI (ou não).

A década de 1940 foi um momento de grande turbulência na Europa, África e América - na Ásia também, é claro - e para expressar, com todas as limitações em que os grandes pensadores são submetidos, George Orwell criou um mundo para ilustrar esse mundo de conflitos bélicos, políticos e ideológicos que vivenciou. Como disse, ainda não cheguei em Contemporânea, muito menos Hist. do Tempo Presente, por isso não posso comentar com propriedade sobre o que Orwell ou Goldstein escreveu sobre a I e II Guerras Mundiais e todos os outros eventos que as antecederam e sucederam, mas pelo meu limitadíssimo conhecimento deu pra perceber alguns pontos interessantes.

O livro é dividido em três partes. Na primeira, Winston nos é apresentado e é encarregado de mostrar ao leitor como o mundo funciona em 1984; na Segunda Parte Winston, à seu modo, se rebela contra o Partido (a instituição governamental de 1984) e, não obstante, conhecemos Julia que há tempos, também à seu modo, se rebelava contra o Partido (ou achava que o fazia). E na Terceira Parte é repreendido é moldado ideologicamente aos interesses do Partido. Entre outras coisas, Orwell critica o positivismo no que concerne a negação e reconstrução do passado. Fala também da manipulação de fontes, quando em 1984 a história é constantemente reescrita de acordo com os interesses do Partido (assim como o ensino de História). Orwell também utiliza o conceito de classe, mostrando sua influência marxista comum aos grandes pensadores até a primeira metade do século XX. Outro ponto interessantíssimo é a Novafala que, genialmente, Orwell percebeu que começava a ocorrer no século XX, pois é notável que a cada ano usamos menos adjetivos e destituímos a gramática e a cada ano as gírias e abreviações (principalmente na internet) contribuem para limitar nossa capacidade de raciocínio... mas quando eu falo em alguma teoria da conspiração sou taxada de doida, pois é.

Na Segunda Parte destaco o livro de Goldstein, no qual tem o mesmo papel que o próprio 1984 possui na nossa sociedade: o de mostrar como as coisas "realmente funcionam", na verdade foi um choque saber que o livro foi escrito pelos próprios integrantes do Partido (ou não, O'Brien pode ter dito isso pra confundir Winston, vai saber, até o leitor fica confuso hehe). As passagens mais interessantes estão na Terceira Parte, nos diálogos entre Winston e O'Brien e, principalmente quando Winston, após semanas/meses de tortura vê seu reflexo no espelho. Daqui a um ano ou dois, após estudar Contemporânea/Tempo Presente, notarei pontos mais relevantes do objetivo de Orwell com o livro. Por ora, é recomendável por retratar a nossa sociedade tal como ela é no sentido político/ideológico: não que o leitor tenha de escolher entre os dois blocos econômicos dominantes que começavam a se delinear no período em que o livro foi escrito e publicado, não.

 O leitor deve observar como somos constantemente manipulados, em como a Memória coletiva e individual é manipulada, em como a História é constantemente reescrita e como as fontes, como disse Le Goff em História e Memória, não são ingênuas atendendo assim aos interesses políticos vigentes.


Quotes
Goldstein bradava seu discurso envenenado de sempre sobre as doutrinas do Partido - um discurso tão exagerado e perverso que não servia nem para enganar uma criança, e ao mesmo tempo suficientemente plausível para fazer com que o ouvinte fosse tomado pela sensação alarmada de que outras pessoas menos equilibradas do que ele próprio poderiam ser iludidas pelo que estava sendo afirmado. (p. 23)
Ninguém ouvia o que o Grande Irmão estava dizendo. Eram apenas algumas palavras de estímulo, o tipo de palavras pronunciadas no fragor da batalha, impossíveis de distinguir isoladamente, mas que restauram a confiança pelo mero fato de serem ditas. (p. 26)
Era um desses sonhos que, mesmo mantendo o cenário onírico característico, são uma continuação da vida intelectual da pessoa, e em que tomamos consciência de fatos e idéias que continuamos achando novos e valiosos depois que acordamos. (p. 42)
Se o Partido era capaz de meter a mão no passado e afirmar que esta ou aquela ocorrência jamais acontecera - sem dúvida isso era mais aterrorizante do que a mera tortura ou a morte. (p. 47)
E se todos os outros aceitassem a mentira imposta pelo Partido - se todos os registros contassem a mesma história -, a mentira tornava-se história e virava verdade. "Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado", rezava o lema do Partido. E com tudo isso o passado, mesmo com sua natureza alterável, jamais fora alterado. Tudo o que fosse verdade agora fora verdade desde sempre, a vida toda. Muito simples. O indivíduo só precisava obter uma série interminável de vitórias sobre a própria memória. "Controle da realidade", era a designação adotada. (p. 47)
Você não vê que a verdadeira finalidade da Novafala é estreitar o âmbito do pensamento? No fim teremos tornado o pensamento-crime literalmente impossível, já que não haverá palavras para expressá-lo. (p. 68 e 69)
Os capitalistas eram donos de tudo o que havia no mundo e todos os outros homens eram escravos. (p. 92)
Ocorreu-lhe que em momentos de crise o embate da pessoa nunca era com um inimigo externo, mas sempre com seu próprio corpo. (p. 124)
 A visão das palavras amo você fizera transbordar nele o desejo de continuar vivo, e a idéia de correr riscos menores pareceu-lhe de repente uma burrice. (p. 133)
Talvez sob a superfície o Partido estivesse podre, talvez seu culto ao zelo e à abnegação não passasse de um biombo ocultando o mais completo desregramento. (p. 152)
Havia uma conexão íntima e direta entre castidade e ortodoxia política. Porque, de que maneira manter no diapasão certo o medo, o ódio e a credulidade imbecil que o Partido necessitava encontrar em seus membros se algum instinto poderoso não fosse represado e depois usado como força motriz? A pulsão sexual era perigosa para o Partido, e o Partido a utilizava em interesse próprio. (p. 161)
Quando você ama alguém, ama essa pessoa e mesmo não tendo mais nada a oferecer, continua oferecendo-lhe o seu amor. (p. 197)
Porque se lazer e segurança fossem desfrutados por todos igualmente, a grande massa de seres humanos que costuma ser embrutecida pela pobreza se alfabetizaria e aprenderia a pensar por si; e depois que isso acontecesse, mais cedo ou mais tarde essa massa se daria conta de que a minoria privilegiada não tinha função nenhuma e acabaria com ela. (p.226)
Na verdade, as três filosofias não têm quase nenhuma diferença entre si, e os sistemas sociais que elas justificam são idênticos. Em toda parte existe a mesma estrutura piramidal, a mesma adoração a um líder semidivino, a mesma economia justificada única e exclusivamente por uma atividade contínua de guerra. (p. 233)
A guerra devora o excedente de bens e contribui para preservar a atmosfera mental que convém a uma sociedade hierárquica. (p. 235)
Todas as novas teorias políticas, seja lá como se autodenominassem, reeditavam as idéias de hierarquia e regimentação. (p. 241)
Não estamos preocupados com aqueles crimes idiotas que você cometeu. O Partido não se interessa pelo ato em si: é só o pensamento que nos preocupa. Não nos limitamos a destruir nossos inimigos; nós os transformamos. (p.297)
A Novafala foi concebida não para ampliar, e sim restringir os limites do pensamento, e a redução a um mínimo do estoque de palavras disponíveis era uma maneira indireta de atingir esse propósito. (p.349)

Eu Vou Ler...

Foto: Maiara Alves
  1. Eduardo Galeano - As Veias Abertas da América Latina
  2. Leandro Narloch e Duda Teixeira - Guia Politicamente Incorreto da América Latina
 Já li e tô lendo, na verdade. Há tempos tô de olho tanto no Guia da América Latina, quanto no do Brasil, e coincidentemente seus autores criticam As Veias Abertas da América Latina, livro que me foi indicado como introdução para a disciplina que aborda as revoluções e ditaduras na América Latina. Bom, já li o Guia Politicamente Incorreto da América Latina, só me falta tempo pra escrever aqui no blog. Registrando porque tenho mania de registrar, de documentar e datar tudo haha, devia ser arquivista.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Pedro Almodóvar - Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Ano: 1988/Espanha
Gênero: Comédia
Elenco: Carmen Maura, Antonio Banderas, Julieta Serrano, María Barranco, Rossy de Palma, Kiti Manver, Guilherme Montesinos

Sinopse: Três mulheres com sérios problemas de relacionamento têm seus caminhos cruzados em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos. Pepa é abandonada por seu amante Ivan. Candela, por sua vez, decide ir morar com Pepa, sua melhor amiga, pois descobriu que o namorado é procurado pela polícia acusado de terrorismo. Lúcia, ex-mulher de Ivan, acaba de sair de um hospital psiquiátrico e está desesperadamente atrás dele. Todas acabam se encontrando no escritório de uma advogada, que por acaso, é a nova namorada de Ivan.

Opinião: Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos foi o filme que, segundo li na internet, projetou Almodóvar internacionalmente; não levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas me deixou mais apaixonada ainda pelo trabalho do cineasta. Trilha sonora, cenário, fotografia e personagens maravilhosos - como sempre -, isso pra não falar do roteiro... La Lupe nos créditos finais é a prova de que para se fazer um bom filme não é preciso mais que uma câmera na mão (como diria Glauber Rocha) e, acima de tudo, muita criatividade e sensibilidade: o que o cineasta espanhol tem de sobra.

Três mulheres apaixonadas pelo mesmo homem: cada uma o ama profundamente à sua maneira e são capazes de fazerem qualquer coisa pelo amado, deixando Madri (a história se passa em Madri? não lembro de terem mencionado), os amigos e elas mesmas realmente à beira de um ataque de nervos. Pepa apenas tenta contar ao seu amante, Ivan, que está grávida, mas vive um turbilhão de emoções em, mais ou menos, apenas dois dias. Esses dias são contados de uma forma muito bem pensada, de modo que uma cena dialoga com a outra (quase não percebi os cortes de uma cena pra outra) e os personagens "secundários" são inseridos de uma forma muito natural e com um timing perfeito. O vermelho (que me influenciou ) que ajuda a contar a história de Pepa está presente nos objetos, nas bebidas, nos móveis e nas roupas e acredito que o uso constante dessa cor pelo cineasta contribui para dar a costumeira intensidade de seus filmes.

Imagem: Google Imagens/Reprodução

Imagem: Google Imagens/Reprodução

Imagem: Google Imagens/Reprodução
A Flor do Meu Segredo, segundo os críticos, inicia a fase madura de Almodóvar, mas achei Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos melhor montado que este, talvez por ter o mesmo tom dramático que os últimos filmes (com excessão de A Pele que Habito). Assim como muitos, também pensei que o taxista fosse o diretor e o achei hilário e até o taxista - que tinha tudo pra ser figurante no filme de um diretor qualquer - se encaixa encantadoramente bem na história de Pepa e as demais mulheres nervosas. Acho que não preciso dizer que o filme é lindo, pois não é hehe, só os atuais conseguiram me emocionar. Mas é lindo à sua maneira: por ter sido carinhosamente montado (é perceptível neste também, o amor de Almodóvar por cinema) e por contar uma história relativamente simples - comparado aos filmes de grande bilheteria - de uma forma incrível só como ele (e alguns poucos outros cineastas) sabe fazer tão bem. Sou suspeita pra falar, qualquer coisa ele fizer vou achar lindo.  

Quotes

"Siga aquele táxi."
"pensei que isso só acontecia no cinema."

"Aqui está. Veja que beleza."
"Nenhum traço de sangue."
"Nem de vísceras."
"Parece mentira."
"Ecce Omo. Parece mentira."

"Os jovens não sabem lutar pelas coisas. Vocês pensam que a vida é só prazer. Pois bem, não é. Você tem que sofrer. E muito."

"Nenhuma mulher é perigosa se você sabe como tratá-la."

"É muito mais fácil aprender mecânica do que psicologia masculina. Você pode vir a conhecer uma moto afundo... mas nunca a um homem."

 Trailer



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