domingo, 29 de julho de 2012

Leandro Narloch e Duda Teixeira - Guia Politicamente Incorreto da América Latina

Foto: Maiara Alves
Guia Politicamente Incorreto da América Latina
ISBN: 9788580441055
Autor: Leandro Narloch e Duda Teixeira
Editora: LeYa
Páginas: 320
Gênero: História

Sobre: Tudo neste livro é contra as regras batidas com as quais se conta a história da América Latina. Não nos sentimos representados por guerrilheiros ou por indignados líderes andinos e suas roupas coloridas. Não há aqui destaque para veias abertas do continente, mas para feridas devidamente tratadas e curadas com a ajuda de grandes potências. Conhecemos bem as tragédias que nossos antepassados índios e negros sofreram - mas, honestamente, estamos cansados de falar sobre elas. E acreditamos que todos os povos passaram por desgraças semelhantes, inclusive aqueles que muitos de nós adoramos acusar.

Opinião: Sabe quando você espera algo de um livro e ele te desaponta totalmente? Guia Politicamente Incorreto da América Latina apesar de ter uma boa capa, um título interessante e ser bonito esteticamente é uma grande porcaria por caluniar alguns dos principais personagens históricos da América Latina. Senti nojo, na verdade, por ter sido escrito por dois brasileiros, e o pior é que não posso culpá-los de serem jornalistas - uma vez que estes são péssimos escrevendo história -, pois o livro que eles criticam constantemente, As Veias Abertas da América Latina, foi escrito por um grande jornalista, Eduardo Galeano. 

Os autores escolheram os principais personagens históricos desde a América pré-Colombiana, com os nativos Astecas, Incas e Maias, e seguiram até os dias atuais, com o ex-presidente do Chile, Salvador Allende (e as inúmeras referências tendenciosas à Hugo Chávez). Ao todo, as vítimas são: os Astecas, Incas, Maias, Simón Bolívar, os Revolucionários Haitianos, Perón, Evita, Pancho Villa, Salvador Allende e Che Guevara - este último é o foco dos autores que prepararam um verdadeiro dossiê com todos os supostos comportamentos que contradizem tudo aquilo pelo que o argentino lutou e o que sua imagem hoje representa. Mas o que esses personagens têm em comum que incomodaram tanto esses dois jornalistas a ponto de escreverem um livro caluniando-os? Bom, além de todos eles terem lutado em favor do território político no qual estamos incluídos - a América Latina - em prol de uma sociedade igualitária, ambos são jornalistas da Veja. Pois é. 

Analisando superficialmente, todas estas figuras históricas buscaram defender bélica, política e ideologicamente a América Latina da colonização espanhola, do imperialismo britânico e estadunidense, e dos demais países que, ao longo de cinco séculos, sugam e sugaram nossas riquezas materias, mão-de-obra e nossa gente no sentido ideológico. Estes personagens não foram santos, mas os autores, baseando-se em biografias tendenciosas, enaltecem os erros e qualquer brecha em seus intinerários que permitem tais afirmações. Como disse, ambos os autores trabalham/trabalharam ou possuem vínculos com a Veja: fato que pode ser considerado como metade da resposta. A outra metade está nas fontes. Para escrever história é necessário analisar todas as fontes sobre determinado evento/processo/pessoa, todas as fontes documentais mesmo. Por isso, os livros sérios de história retratam apenas um "curto" período, geralmente 20/30 anos ou até 100. Se a análise de todas as fontes do período relatado não acontecer, entre outras coisas, corremos o risco de sermos imparciais e conseqüentemente de escondermos determinadas informações. O Guia Politicamente Incorreto da América Latina além de ser extremamente tendencioso, é muito simplório e ridículo ao utilizar biografias também tendenciosas para escrever sobre os homens e mulheres que tentaram defender a América Latina, território tão marginalizado e explorado.

Ao escrever história, além de termos de nos preocupar em ler todas as fontes, buscar a imparcialidade e reconstituí-la o mais fidedignamente possível ainda temos de lidar com a problemática da manipulação da memória. Em História e Memória, o historiador medievalista francês Jacques Le Goff relata que os documentos que usamos como fontes, suas informações, não são inocentes: são manipulados em favor dos grupos sociais dominantes. Acho que já me fiz entender. O Guia Politicamente Incorreto da América Latina foi escrito para exaltar o imperialismo e a exploração do território no qual estamos inclusos, com o objetivo de escancaradamente caluniar os homens e mulheres que pelo menos tentaram defender esta terra da inescrupulosidade do capitalismo, dos homens "liberais" a fim de atender aos interesses dos grupos dominantes, como sempre!

Deste aglomerado de palavras que não dizem coisa com coisa, aprendemos que é preciso buscar o máximo de informação possível  e não nos contentarmos com aquilo que está escrito. Precisamos questionar e desconfiar de tudo! De tudo meeesmo. Quanto a América Latina, ou qualquer livro sobre a história de qualquer continente/território/político, ou qualquer outra coisa relacionada à história, recomendo livros de historiadores, e mesmo assim de historiadores de diversas orientações políticas/ideológicas, por favor desconfiem do que nós dizemos também.


As pérolas/piadas Quotes
Che Guevara, ídolo dos jovens rebeldes e pacifistas, não só considerava o ódio um sentimento nobre como agiu para que houvesse uma guerra nuclear na América. (p.48)
No bom, velho e tão criticado capitalismo democrático, as pessoas estão livres para fazer da vida o que acharem melhor, inclusive errar. (p. 72)
Que democracia? Que liberdade? E a escravidão ideológica? Que mer#@!
Ainda hoje, a narrativa dos cruéis conquistadores alimenta discursos indignados, emociona e revolta o público no cinema. E elege presidentes. (p. 84)
A julgar pela ditadura que a Venezuela se tornou nos últimos dez anos, é razoável acreditar que, sim, Simón Bolívar, senta ali todos os dias. Mais vivo do que nunca, dá seguidos conselhos catastróficos a Hugo Chávez. (p. 150)
Preocupado em moldar a mente da população, o peronismo também alterou os livros didáticos. (p. 215)
E vocês alterando a história kkkkk.
 

quinta-feira, 26 de julho de 2012

George Orwell - 1984

Foto: Maiara Alves
1984
ISBN: 9788535914849
Autor: George Orwell
Tradução: Alexandre Hubner e Heloisa Jahn
Editora (Br): Companhia das Letras
Páginas: 414
Gênero: Literatura Estrangeira/Romance

Sobre: 1984 é uma das obras mais influentes do século XX, um inquestionável clássico moderno. Publicado em 1949, quando o ano de 1984 pertencia a um futuro relativamente distante, tem como herói o angustiado Winston Smith, refém de um mundo feito de opressão absoluta. Em Oceânia, ter uma mente livre é considerado crime gravíssimo, pois o Grande Irmão (Big Brother), líder simbólico do Partido que controla a tudo e todos, "está de olho em você." No íntimo, porém, Winston se rebela contra a sociedade totalitária na qual vive: em seu anseio por verdade e liberdade, ele arrisca a vida ao se envolver amorosamente com uma colega de trabalho, Júlia, e com uma organização revolucionária secreta.

Opinião: Foi um dos livros mais incríveis que já li até hoje e sabia que me marcaria mesmo antes de lê-lo. Por ser publicado originalmente em 1949, 1984, do britânico Eric Arthur Blair (nome original de Orwell), parecia um futuro distante, ficção de fato. Mas poucos livros retrataram tão bem e tão fidedignamente a nossa sociedade. 1984 é os anos 1920, 1930, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1990, 2000 e, infelizmente, ainda, os anos 2010 no sentido político-ideológico. Orwell pensou, especificamente, o pós-guerra e o início da Guerra Fria, ainda não cheguei lá (acabei de sair da Idade Média), mas no geral podemos dizer que o livro retrata todo o século XX e início do XXI (ou não).

A década de 1940 foi um momento de grande turbulência na Europa, África e América - na Ásia também, é claro - e para expressar, com todas as limitações em que os grandes pensadores são submetidos, George Orwell criou um mundo para ilustrar esse mundo de conflitos bélicos, políticos e ideológicos que vivenciou. Como disse, ainda não cheguei em Contemporânea, muito menos Hist. do Tempo Presente, por isso não posso comentar com propriedade sobre o que Orwell ou Goldstein escreveu sobre a I e II Guerras Mundiais e todos os outros eventos que as antecederam e sucederam, mas pelo meu limitadíssimo conhecimento deu pra perceber alguns pontos interessantes.

O livro é dividido em três partes. Na primeira, Winston nos é apresentado e é encarregado de mostrar ao leitor como o mundo funciona em 1984; na Segunda Parte Winston, à seu modo, se rebela contra o Partido (a instituição governamental de 1984) e, não obstante, conhecemos Julia que há tempos, também à seu modo, se rebelava contra o Partido (ou achava que o fazia). E na Terceira Parte é repreendido é moldado ideologicamente aos interesses do Partido. Entre outras coisas, Orwell critica o positivismo no que concerne a negação e reconstrução do passado. Fala também da manipulação de fontes, quando em 1984 a história é constantemente reescrita de acordo com os interesses do Partido (assim como o ensino de História). Orwell também utiliza o conceito de classe, mostrando sua influência marxista comum aos grandes pensadores até a primeira metade do século XX. Outro ponto interessantíssimo é a Novafala que, genialmente, Orwell percebeu que começava a ocorrer no século XX, pois é notável que a cada ano usamos menos adjetivos e destituímos a gramática e a cada ano as gírias e abreviações (principalmente na internet) contribuem para limitar nossa capacidade de raciocínio... mas quando eu falo em alguma teoria da conspiração sou taxada de doida, pois é.

Na Segunda Parte destaco o livro de Goldstein, no qual tem o mesmo papel que o próprio 1984 possui na nossa sociedade: o de mostrar como as coisas "realmente funcionam", na verdade foi um choque saber que o livro foi escrito pelos próprios integrantes do Partido (ou não, O'Brien pode ter dito isso pra confundir Winston, vai saber, até o leitor fica confuso hehe). As passagens mais interessantes estão na Terceira Parte, nos diálogos entre Winston e O'Brien e, principalmente quando Winston, após semanas/meses de tortura vê seu reflexo no espelho. Daqui a um ano ou dois, após estudar Contemporânea/Tempo Presente, notarei pontos mais relevantes do objetivo de Orwell com o livro. Por ora, é recomendável por retratar a nossa sociedade tal como ela é no sentido político/ideológico: não que o leitor tenha de escolher entre os dois blocos econômicos dominantes que começavam a se delinear no período em que o livro foi escrito e publicado, não.

 O leitor deve observar como somos constantemente manipulados, em como a Memória coletiva e individual é manipulada, em como a História é constantemente reescrita e como as fontes, como disse Le Goff em História e Memória, não são ingênuas atendendo assim aos interesses políticos vigentes.


Quotes
Goldstein bradava seu discurso envenenado de sempre sobre as doutrinas do Partido - um discurso tão exagerado e perverso que não servia nem para enganar uma criança, e ao mesmo tempo suficientemente plausível para fazer com que o ouvinte fosse tomado pela sensação alarmada de que outras pessoas menos equilibradas do que ele próprio poderiam ser iludidas pelo que estava sendo afirmado. (p. 23)
Ninguém ouvia o que o Grande Irmão estava dizendo. Eram apenas algumas palavras de estímulo, o tipo de palavras pronunciadas no fragor da batalha, impossíveis de distinguir isoladamente, mas que restauram a confiança pelo mero fato de serem ditas. (p. 26)
Era um desses sonhos que, mesmo mantendo o cenário onírico característico, são uma continuação da vida intelectual da pessoa, e em que tomamos consciência de fatos e idéias que continuamos achando novos e valiosos depois que acordamos. (p. 42)
Se o Partido era capaz de meter a mão no passado e afirmar que esta ou aquela ocorrência jamais acontecera - sem dúvida isso era mais aterrorizante do que a mera tortura ou a morte. (p. 47)
E se todos os outros aceitassem a mentira imposta pelo Partido - se todos os registros contassem a mesma história -, a mentira tornava-se história e virava verdade. "Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado", rezava o lema do Partido. E com tudo isso o passado, mesmo com sua natureza alterável, jamais fora alterado. Tudo o que fosse verdade agora fora verdade desde sempre, a vida toda. Muito simples. O indivíduo só precisava obter uma série interminável de vitórias sobre a própria memória. "Controle da realidade", era a designação adotada. (p. 47)
Você não vê que a verdadeira finalidade da Novafala é estreitar o âmbito do pensamento? No fim teremos tornado o pensamento-crime literalmente impossível, já que não haverá palavras para expressá-lo. (p. 68 e 69)
Os capitalistas eram donos de tudo o que havia no mundo e todos os outros homens eram escravos. (p. 92)
Ocorreu-lhe que em momentos de crise o embate da pessoa nunca era com um inimigo externo, mas sempre com seu próprio corpo. (p. 124)
 A visão das palavras amo você fizera transbordar nele o desejo de continuar vivo, e a idéia de correr riscos menores pareceu-lhe de repente uma burrice. (p. 133)
Talvez sob a superfície o Partido estivesse podre, talvez seu culto ao zelo e à abnegação não passasse de um biombo ocultando o mais completo desregramento. (p. 152)
Havia uma conexão íntima e direta entre castidade e ortodoxia política. Porque, de que maneira manter no diapasão certo o medo, o ódio e a credulidade imbecil que o Partido necessitava encontrar em seus membros se algum instinto poderoso não fosse represado e depois usado como força motriz? A pulsão sexual era perigosa para o Partido, e o Partido a utilizava em interesse próprio. (p. 161)
Quando você ama alguém, ama essa pessoa e mesmo não tendo mais nada a oferecer, continua oferecendo-lhe o seu amor. (p. 197)
Porque se lazer e segurança fossem desfrutados por todos igualmente, a grande massa de seres humanos que costuma ser embrutecida pela pobreza se alfabetizaria e aprenderia a pensar por si; e depois que isso acontecesse, mais cedo ou mais tarde essa massa se daria conta de que a minoria privilegiada não tinha função nenhuma e acabaria com ela. (p.226)
Na verdade, as três filosofias não têm quase nenhuma diferença entre si, e os sistemas sociais que elas justificam são idênticos. Em toda parte existe a mesma estrutura piramidal, a mesma adoração a um líder semidivino, a mesma economia justificada única e exclusivamente por uma atividade contínua de guerra. (p. 233)
A guerra devora o excedente de bens e contribui para preservar a atmosfera mental que convém a uma sociedade hierárquica. (p. 235)
Todas as novas teorias políticas, seja lá como se autodenominassem, reeditavam as idéias de hierarquia e regimentação. (p. 241)
Não estamos preocupados com aqueles crimes idiotas que você cometeu. O Partido não se interessa pelo ato em si: é só o pensamento que nos preocupa. Não nos limitamos a destruir nossos inimigos; nós os transformamos. (p.297)
A Novafala foi concebida não para ampliar, e sim restringir os limites do pensamento, e a redução a um mínimo do estoque de palavras disponíveis era uma maneira indireta de atingir esse propósito. (p.349)

Eu Vou Ler...

Foto: Maiara Alves
  1. Eduardo Galeano - As Veias Abertas da América Latina
  2. Leandro Narloch e Duda Teixeira - Guia Politicamente Incorreto da América Latina
 Já li e tô lendo, na verdade. Há tempos tô de olho tanto no Guia da América Latina, quanto no do Brasil, e coincidentemente seus autores criticam As Veias Abertas da América Latina, livro que me foi indicado como introdução para a disciplina que aborda as revoluções e ditaduras na América Latina. Bom, já li o Guia Politicamente Incorreto da América Latina, só me falta tempo pra escrever aqui no blog. Registrando porque tenho mania de registrar, de documentar e datar tudo haha, devia ser arquivista.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Pedro Almodóvar - Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Ano: 1988/Espanha
Gênero: Comédia
Elenco: Carmen Maura, Antonio Banderas, Julieta Serrano, María Barranco, Rossy de Palma, Kiti Manver, Guilherme Montesinos

Sinopse: Três mulheres com sérios problemas de relacionamento têm seus caminhos cruzados em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos. Pepa é abandonada por seu amante Ivan. Candela, por sua vez, decide ir morar com Pepa, sua melhor amiga, pois descobriu que o namorado é procurado pela polícia acusado de terrorismo. Lúcia, ex-mulher de Ivan, acaba de sair de um hospital psiquiátrico e está desesperadamente atrás dele. Todas acabam se encontrando no escritório de uma advogada, que por acaso, é a nova namorada de Ivan.

Opinião: Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos foi o filme que, segundo li na internet, projetou Almodóvar internacionalmente; não levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas me deixou mais apaixonada ainda pelo trabalho do cineasta. Trilha sonora, cenário, fotografia e personagens maravilhosos - como sempre -, isso pra não falar do roteiro... La Lupe nos créditos finais é a prova de que para se fazer um bom filme não é preciso mais que uma câmera na mão (como diria Glauber Rocha) e, acima de tudo, muita criatividade e sensibilidade: o que o cineasta espanhol tem de sobra.

Três mulheres apaixonadas pelo mesmo homem: cada uma o ama profundamente à sua maneira e são capazes de fazerem qualquer coisa pelo amado, deixando Madri (a história se passa em Madri? não lembro de terem mencionado), os amigos e elas mesmas realmente à beira de um ataque de nervos. Pepa apenas tenta contar ao seu amante, Ivan, que está grávida, mas vive um turbilhão de emoções em, mais ou menos, apenas dois dias. Esses dias são contados de uma forma muito bem pensada, de modo que uma cena dialoga com a outra (quase não percebi os cortes de uma cena pra outra) e os personagens "secundários" são inseridos de uma forma muito natural e com um timing perfeito. O vermelho (que me influenciou ) que ajuda a contar a história de Pepa está presente nos objetos, nas bebidas, nos móveis e nas roupas e acredito que o uso constante dessa cor pelo cineasta contribui para dar a costumeira intensidade de seus filmes.

Imagem: Google Imagens/Reprodução

Imagem: Google Imagens/Reprodução

Imagem: Google Imagens/Reprodução
A Flor do Meu Segredo, segundo os críticos, inicia a fase madura de Almodóvar, mas achei Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos melhor montado que este, talvez por ter o mesmo tom dramático que os últimos filmes (com excessão de A Pele que Habito). Assim como muitos, também pensei que o taxista fosse o diretor e o achei hilário e até o taxista - que tinha tudo pra ser figurante no filme de um diretor qualquer - se encaixa encantadoramente bem na história de Pepa e as demais mulheres nervosas. Acho que não preciso dizer que o filme é lindo, pois não é hehe, só os atuais conseguiram me emocionar. Mas é lindo à sua maneira: por ter sido carinhosamente montado (é perceptível neste também, o amor de Almodóvar por cinema) e por contar uma história relativamente simples - comparado aos filmes de grande bilheteria - de uma forma incrível só como ele (e alguns poucos outros cineastas) sabe fazer tão bem. Sou suspeita pra falar, qualquer coisa ele fizer vou achar lindo.  

Quotes

"Siga aquele táxi."
"pensei que isso só acontecia no cinema."

"Aqui está. Veja que beleza."
"Nenhum traço de sangue."
"Nem de vísceras."
"Parece mentira."
"Ecce Omo. Parece mentira."

"Os jovens não sabem lutar pelas coisas. Vocês pensam que a vida é só prazer. Pois bem, não é. Você tem que sofrer. E muito."

"Nenhuma mulher é perigosa se você sabe como tratá-la."

"É muito mais fácil aprender mecânica do que psicologia masculina. Você pode vir a conhecer uma moto afundo... mas nunca a um homem."

 Trailer




domingo, 22 de julho de 2012

Nicolau Maquiavel - O Príncipe

Foto: Maiara Alves
De Principatibus
ISBN: 9788563560032
Autor: Nicolau Maquiavel (Niccolò Machiavelli)
Tradução: Maurício Santana Dias
Editora (Br): Companhia das Letras/Penguin
Páginas: 172
Gênero: Ciência Política/Política

Sobre: Ao longo de cinco séculos, o trabalho mais conhecido de Nicolau Maquiavel (1469-1527) deixou de ser apenas uma leitura de interesse político, para se transformar também em literatura obrigatória no currículo de historiadores, economistas, sociólogos, advogados e executivos. Na Florença do século XVI, Maquiavel escreveu, com texto límpido e elegante, não só um manual para a conduta de um mandatário, mas uma obra clássica da filosofia moderna, fundadora da ciência política, que é ainda uma esplêndida meditação sobre a conduta do governante e sobre o funcionamento do Estado. Mais do que um tratado sobre as condições concretas do jogo político, O príncipe é um estudo sobre as oportunidades oferecidas pela fortuna, sobre as virtudes e os vícios intrínsecos ao comportamento dos governantes. Suas observações sobre moralidade e ética permanecem espantosamente atuais.

Opinião: Ao contrário da descrição do livro, eu diria que a leitura de O Príncipe é obrigatória a todo e qualquer cidadão de qualquer Estado do mundo e não apenas à profissionais específicos, pois este manual descreve, talvez verità effettuale, o perfil político do homem - dominante e dominado - liberal capitalista. Machiavelli teve a oportunidade de acompanhar de perto alguns políticos e, a partir da observação de suas atitudes, descreveu como se dava efetivamente a ação política de seu tempo que se mantém "espantosamente atual" por dois motivos: porque ainda vivemos o modelo político que estava começando a se delinear na época e por ter descrito a postura que o governante deve ter nas relações políticas.

Acredito que o li no tempo certo: acabei de estudar História Medieval e, praticamente na semana que vem, começo a estudar História Moderna; muito superficialmente, é claro, não dá pra estudar tudo em um semestre (nem em quatro anos), mas dá pra ter uma noção mais ou menos ampla do que foram essas duas fases da história. Bom, o contexto do livro é a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna na Itália - mais precisamente em Florença, cidade natal de Machiavelli, Dante, Michelangelo e outros grandes homens notáveis. Não temos como datar exatamente quando se deu a passagem da Idade Média para a Moderna,  isso varia de historiador para historiador e conseqüentemente de sua orientação. Braudel, em A Dinâmica do Capitalismo, já enxergava neste período (fim da Idade Média e início da Moderna) vestígios do sistema econômico capitalista, baseado nisso acredito que a principal obra de Machiavelli é "espantosamente atual" por descrever o perfil político do homem dominante e dominado dessa sociedade específica, fruto do modelo "liberal capitalista".

Na capa do livro desta versão temos o Retrato de Lourenço de Médici (a quem o livro foi dedicado), pintado por Rafael Sanzio em 1518 - e não o próprio Machiavelli como eu pensava. Machiavelli era ambicioso, segundo consta no prefácio de Fernando Henrique Cardoso, e pretendia seguir carreira política, mas por não possuir os recursos que eram necessários para tal, buscou o poder através da intelectualidade, e conseguiu. Grafton ressalta as considerações de Felix Gilbert, de que Machiavelli apenas pôs no papel a política que já era discutida na esfera privada, tornando-a então pública e descrevendo-a como realmente era, e não como deveria ser, sendo considerado por estes motivos um renovador e sua principal obra um clássico. O teórico italiano é popularmente mais conhecido pela expressão que leva seu nome, "maquiavélico" do que por sua obra em si, embora esta tenha surgido delas. Lendo O Príncipe podemos entender o significado da expressão, bem como se dá as complexas relações políticas que vigoram até os dias atuais.

O livro traz muitos pontos que merecem ser destacados: a conduta do governante para com o povo, com seu exército, com governantes de outros territórios; considerações sobre guerras, moral, a importância da história, etc. Como todos os homens de seu período, Machiavelli percebeu que as coisas dependiam mais do homem que do poder divino, que o objetivo da política é organizar cidades para que o instinto egoísta intrínseco ao ser humano não as destrua, que o objetivo da ação política é o poder e que a dominação é um bem "Porque em toda cidade se encontram essas duas tendências opostas: de uma parte, o povo não quer ser comandado nem oprimido pelos poderosos, de outra, os poderosos querem comandar e oprimir o povo; desses dois desejos antagônicos advém nas cidades uma das três consequências: principado, liberdade ou desordem. (p. 77) O livro é incrível, a tradução de Maurício Santana Dias é bem simples e totalmente acessível a qualquer tipo de leitor, o recomendo não apenas por ser um clássico ou por descrever e explicar as relações políticas, mas por mostrar de uma forma generalizada o comportamento do homem em sociedade e quando relacionado ao poder. Seu conteúdo é discutido há mais de meio século, escrever sobre todas as coisas importantes que Machiavelli traz com meu limitado conhecimento de dezenove anos de vida e quase um ano de história é impossível, mesmo porque é importantíssimo que cada um reflita por si, independente de ser ou não um historiador, sociólogo, filósofo, executivo, letrado, advogado ou o Presidente da República, esta ou qualquer outra obra.

Quotes
"(...) pois sabiam que guerra não se evita, mas se adia em favor de outrem." (p. 53)
"Tampouco jamais apreciaram o que hoje está na boca de todos os sábios, ou seja, que se desfrutem os benefícios do tempo, preferindo antes seguir seu valor e prudência: porque o tempo arrasta tudo consigo e pode trazer o bem como o mal, ou o mal como bem." (p.54)
"O desejo de conquista é algo realmente muito natural e comum, e aqueles que têm exito na empreitada serão sempre louvados, ou pelo menos não criticados; porém, quando não têm força para tanto e querem realizá-lo a qualquer custo, aí reside o erro, daí decorre a crítica." (p.55)
 "Pois, além do que já foi dito, a natureza dos povos é inconstante, sendo fácil persuadi-los de uma coisa, mas difícil mantê-los nessa persuasão; portanto convém estar preparado para convencê-los pela força, quando já não estiverem convencidos por si mesmos." (p. 64)
"A crueldade bem empregada - se é lícito falar bem do mal - é aquela que se faz de uma só vez, por necessidade de segurança; depois não se deve perseverar nela, mas convertê-la no máximo de benefício para os súditos. Mal usadas são aquelas maldades que, embora a principio sejam poucas, com o tempo aumentam em vez de se extinguirem." (p. 76)
"Por isso as injúrias devem ser cometidas de uma vez só, de modo que, por sua brevidade, ofendam menos ao paladar; ao passo que os benefícios devem ser feitos aos poucos, para que sejam mais bem saboreados." (p.77)

"(...) respondo que um príncipe prudente e corajoso sempre será capaz de superar todas essas dificuldades, ora dando aos súditos a esperança de que o mal não seja duradouro, ora incutindo-lhes o medo da crueldade do inimigo, ora precavendo-se com destreza contra aqueles que lhe parecem ousados demais." (p. 82)
"No que diz respeito ao exercício da mente, o príncipe deve ler obras de história e nelas atentar para as ações dos homens ilustres, ver como eles se conduziram nas guerras e examinar as causas de suas vitórias e derrotas, a fim de evitar estas e imitar aquelas." (p. 96)

"Um príncipe sábio deve observar tais exemplos e nunca manter-se ocioso nos tempos de paz, mas aproveitar-se deles com engenho para poder agir melhor na adversidade; de modo que, quando a fortuna mudar, ele esteja preparado para resistir a ela." (p. 97)
"Porque, de modo geral, pode-se dizer que os homens são ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, avessos ao perigo, ávidos de ganhos..." (p. 102)
"(...) os homens têm menos escrúpulos em ofender alguém que se faça amar a outro que se faça temer: porque o amor é mantido por um vínculo de reconhecimento, mas, como os homens são maus, se aproveitam da primeira ocasião para rompê-lo em benefício próprio, ao passo que o temor é mantido pelo medo da punição, o qual não esmorece nunca." (p. 102)
"Mas o mais importante é abster-se dos bens alheios, pois os homens se esquecem com maior rapidez da morte de um pai que da perda do patrimônio." (p. 103)
"Aquiles e tantos outros príncipes antigos foram deixados aos cuidados do centauro Quíron, que os manteve sob sua disciplina. Isso quer dizer que, tendo por preceptor um ser metade animal e metade homem, um príncipe deve saber usar de ambas as naturezas: e uma sem a outra não produz efeitos duradouros." (p. 105)
"Se todos os homens fossem bons, este preceito não seria bom; mas, como eles são maus e não mantêm a palavra dada ao príncipe, este também não deve mantê-la perante eles." (p. 105)
" Mas é necessário saber camuflar bem essa natureza, ser um grande fingidor e dissimulador; e os homens são tão simplórios e obedientes às necessidades imediatas que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar." (p. 105)
"Os homens em geral julgam mais com os olhos que com as mãos; porque todos são capazes de ver, mas poucos, de sentir; todos vêem aquilo que você parece, poucos tocam aquilo que você é." (p. 106)
"(...) pois nunca se deve cair acreditando que haverá quem o levante mais tarde." (p. 130)
"(...) apenas são boas e certas e duradouras as defesas que dependem exclusivamente de você e de sua virtude." (p. 131)
"As únicas guerras justas são as necessárias, e tais armas são piedosas onde não há nenhuma esperança além delas." (p. 135)
 

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Walter Salles - On The Road

Imagem: Google Imagens/Reprodução
On The Road
Direção: Walter Salles
Roteiro: Jose Rivera
Ano: 2012/França-Reino Unido-EUA-Brasil
Gênero: Aventura/Drama
Elenco: Garret Hedlund, Kristen Stewart, Sam Riley, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Amy Adams, Steve Buscemi, Elizabeth Moss, Terrence Howard, Alice Braga, Tom Sturridge

Sinopse: Nova York, Estados Unidos. Sal Paradise é um aspirante a escritor que acaba de perder o pai. Ao conhecer Dean Moriarty ele é apresentado a um mundo até então desconhecido, onde há bastante liberdade no sexo e no uso de drogas. Logo Sal e Dean se tornam grandes amigos, dividindo a parceria com  a jovem Marylou, que é apaixonada por Dean. Os três viajam pelas estradas do interior do país, sempre dispostos a fugir de uma vida monótona e cheia de regras.

Foto: Maiara Alves
Opinião: Há dois anos, desde que vi o loiro avermelhado de Kristen Stewart na divulgação de Eclipse e soube que ela havia tingido por causa de Marylou, venho esperando ansiosamente por este filme. Comprei o livro em Fevereiro do ano passado e só comecei a lê-lo no início da semana passada quando ainda não sabia que a estréia aqui no Brasil seria na sexta da mesma semana, dia 13. O engraçado é que eu marquei quase as mesmas quotes que os roteiristas inseriram no filme, mas não gostei. Não, na verdade não atendeu as minhas expectativas.

A primeira vez que vi Orgulho e Preconceito (Joe Wright, 2005) detestei, hoje é um dos filmes que mais vi na vida. Geralmente costumo detestar coisas (e pessoas) "à primeira vista", mas com o tempo conhecendo-as e vendo-as passo a gostar e me apaixono pelo resto da vida e talvez seja esse o caso de On The Road de Walter Salles. O filme é incrível, talvez um pouco confuso pra quem não leu o livro (só li até a página 100 e alguma coisa), mas ainda ressalto que é incrível pelos atores do caramba, pelo diretor do caramba, pela trilha do caramba, por uma fotografia do caramba e por ser baseado num livro do caramba haha.
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
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Se o livro fosse publicado hoje não causaria o mesmo efeito que em 1957: a excessiva "liberdade" para a época hoje são tão comuns que um comportamento mais austero é até mais apreciado. Kerouac e seus amigos influenciaram uma geração e, de certa forma, efetivamente revolucionaram (ou protagonizaram o que estava fadado a acontecer já que, provavelmente, eles não eram os únicos a vivenciarem essas experiências) o estilo de vida de muitos jovens estadunidenses e é nisso que considero o livro "do caramba". Uma obra literária, ou qualquer outra produção cultural, pra ser prestigiada por mim pelo menos tem que tocar o leitor. Walter Salles, segundo o que li na internet, trabalhou oito anos neste filme, Kristen Stewart disse que o filme e o livro mudaram sua vida, na sala de exibição em que o vi haviam vááários velhinhos que provavelmente foram jovens no fim da década de 50 e 60.

O filme é incrível porque, mesmo não tendo me apaixonado à primeira vista, dava pra sentir a reverência com a qual os profissionais envolvidos o fizeram. Gostei muito da trilha sonora e da fotografia, não muito de alguns atores, mas me apaixonei pelas vozes de Sam Riley e Garret Hedlund. Tom Sturridge um fofo, mais fofo ainda com Garret, adorei mesmo. Não aprecio o comportamento deles, mas acho importante enaltecermos a coragem e ousadia desses jovens por darem vazão aos seus instintos quebrando padrões de comportamento e, como já disse, deve ser enaltecido também o impacto que a obra causou. Indico a crítica da Natália Bridi sobre o filme, confesso que me emocionei ao ver sua devoção à obra e ela é um bom exemplo do que penso a respeito da arte (literária, cinematográfica, musical, etc.).

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terça-feira, 17 de julho de 2012

Marc Webb - The Amazing Spider-Man

Imagem: Google Imagens/Reprodução
The Amazing Spider-Man
Direção: Marc Webb
Roteiro: Alvin Sargent, James Vanderbilt, Steve Kloves
Ano: 2012/EUA
Gênero: Ação/Aventura/Fantasia
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field, Irrfan Khan, Campbell Scott, Embeth Davidtz, Chris Zylka, Max Charles 

Sinopse: Peter Parker é um rapaz tímido e estudioso, que iniciou há pouco tempo um namoro com a bela Gwen Stacy, sua colega de colégio. Ele vive com os tios, May e Ben, desde que foi deixado pelos pais, Richard e Mary. Certo dia, o jovem encontra uma misteriosa maleta que pertenceu a seu pai. O artefato faz com que visite o laboratório do dr. Curt Connors na Oscorp. Parker está em busca de respostas sobre o que aconteceu com os pais, só que acaba entrando em rota de colisão com o perigoso alter-ego de Connors, o vilão Lagarto.

Foto: Maiara Alves
Opinião: Uma sinopse seria quase dispensável se não descrevesse as poucas mudanças da nova versão cinematográfica do super herói nova-iorquino. Este é mais simples, ou sem o ar pomposo do primeiro filme da versão dos anos dois mil, talvez o diretor tenha algo a ver com isto. Meu comentário vai ser breve e "a migué" mesmo, pois não é o tipo de filme que gosto ou vejo - mas era a única coisa assistível no fds em que estreou =/.

No pós-crise (para alguns "ainda" em crise), os EUA recorrem mais do que nunca ao seu grande meio difusor de cultura: hollywood. E a conseqüência são "remakes" de filmes de super-heróis (ou qualquer outro tipo, desde que o processo ideológico possa ser inserido), com cidadãos de bem ganhando super poderes e livrando suas grandes cidades, o país, o planeta e até o universo do mal. Dezenas de milhares de pessoas no Brasil (oi? ô/) foram aos cinemas ver a mais nova versão do Homem-Aranha - mesmo o último filme tendo sido lançado há pouco tempo (2007) - percebi que está se delineando uma nova tendência no cinema na qual escolhemos os atores, e não o filme em si, já que as histórias são as mesmas. No início do ano, por exemplo, pudemos escolher entre a versão da Branca de Neve da Julia Roberts ou da Charlize Theron quase que simultaneamente. 

O novo filme do jovem órfão que é picado por uma aranha é mais simples e ilustra a sensação de que viemos ao mundo com nosso roteiro bem definido uando, nesta versão, Peter Parker inevitavelmente se torna órfão, logo depois vai morar com os tios, seu tio Ben é assassinado por um assaltante, se apaixona pela colega de turma, é picado por uma aranha na Oscorp e todas as outras coisas que, independentemente dele ter seguido "este" ou "aquele" caminho lhe teria ocorrido os mesmos eventos: algo como destino. Podemos ver essa nova provável série como um outro mundo de possibilidades em que Peter Parker está inserido onde suas escolhas sempre o levarão ao mesmo caminho. Confesso que não tenho muito o que falar sobre o filme, só que gostei mais por causa do fofo do Andrew Garfield (que havia me apaixonado em Never Let Me Go) e talvez pela direção do Webb, que deu uma leveza à história, um tom mais real na minha opinião. 

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domingo, 1 de julho de 2012

Woody Allen - To Rome With Love

Imagem: Google Imagens/Reprodução
To Rome With Love
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Ano: 2012/EUA-Itália-Espanha
Gênero: Comédia
Elenco: Woody Allen, Alec Baldwin, Jesse Eisenberg, Greta Gerwing, Ellen Page, Alison Pill, Flavio Parenti, Fabio Armiliato, Roberto Benigni, Alessandro Tiberi, Alessanda Mastronardi, Penélope Cruz

Sinopse: O longa é dividido em quatro segmentos. Em um deles, um casal americano viajam para Roma para conhecer a família do noivo de sua filha. Outra história envolve Leopoldo, um homem comum que é confundido com uma estrela de cinema. Um terceiro episódio retrata um arquiteto da Califórnia que visita a Itália com um grupo de amigos. Por último, temos dois jovens recém-casados que se perdem pelas confusas ruas de Roma.

Foto: Maiara Alves
Opinião: Diferente de Midnight In Paris, e assim como Vicky Cristina Barcelona e Match Point, Woody Allen, em To Rome With Love, homenageia simples e naturalmente uma das principais cidades turísticas da Europa em situações comuns à todos os mortais (ou não). Roma, uma cidade importante para história, recebe turistas que fazem história (como o guarda de trânsito percebe) e a cidade participa de momentos memoráveis na história desses turistas. Gostei, acho que posso considerar um dos meus filmes preferidos atualmente.

Midnight in Paris é quase rude - comparada a delicadeza e beleza da capital francesa -, a homenagem é forçada e soa falsa pela irritante presença do diretor no protagonista com todas as suas egocêntricidades, na verdade minha aversão é pelo fato de detestar pessoas como ele. To Rome With Love, talvez por não ter apenas um protagonista (o próprio diretor) e sim muitos - adoráveis por sinal - é diferente e com certeza me faria comprar uma passagem pra capital italiana - como se uma estudante de História não tivesse motivos suficientes para visitá-la. Além de ser uma cidade histórica, a capital italiana ainda faz história ao receber turistas de todo o mundo que, com certeza lá, vivem situações inusitadas, além de terem a cidade como cenário para a "história que vou contar para os meus netos". A sensação que tive com o filme é que a cidade histórica ainda faz história e é cenário da própria história de seus visitantes e turistas em que lá se encontram. 

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
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 As estórias escolhidas pelo diretor, que foi criticado neste filme por não interagir efetivamente com Roma, sua história e elementos da História da Cultura (como diria José D'Assunção Barros...), não foram as melhores (acho que a cidade sob a ótica de outro escritor/diretor renderia histórias mais interessantes), mas não podíamos esperar muito de um cineasta egocêntrico. Uma destas estórias é de um arquiteto bem sucedido que, ao voltar à Roma de férias, decide procurar a rua onde residiu e reviver as memórias do ano em que viveu por lá pois, na minha opinião, a personagem do Jesse Eisenberg é o próprio arquiteto, a personagem de Alec Baldwin. Nesta mesma história há talvez uma versão feminina também irritante de Allen, interpretada por Ellen Page que nada tem a ver com a personagem que interpreta - acho que a Greta Gerwig seria uma escolha melhor.

O adorável Guido de La Vita è Bella, Roberto Benigni, vive um homem comum que, literalmente da noite para o dia, se torna uma celebridade. O filme demonstra o quão comuns e "babacas" são essas pessoas, o circo e notícias estúpidas que a imprensa faz em torno delas e que, apesar disso tudo, é melhor ser rico e famoso do que simplesmente rico, segundo o motorista do próprio Leopoldo; "Por quê eu sou famoso?" pergunta, "E por quê essas pessoas são famosas?" pergunto eu. Percebi também um pouco do diretor em Leopoldo... e por falar nele, a outra estória, do núcleo de Jerry (personagem de Woody Allen) é a melhor homenagem do filme à Roma e à Itália ao demonstrar que qualquer pessoa é um grande cantor (a) de ópera no chuveiro. Música está muito presente no filme, e bem utilizada. Não sei se por estar mais familiarizada com a cultura italiana do que a francesa, gostei mais da trilha sonora de To Rome With Love do que de Midnight In Paris. Abaixo, "Amada mia, amore mio" constantemente presente no filme.



A melhor história mesmo é a do jovem casal, interpretados por Alessandra Mastronardi e Alessandro Tiberi, que tentam se estabelecer e estabelecer relações profissionais na cidade. Milly se perde em Roma ao tentar achar um cabeleireiro, demonstrando de uma forma muito cômica como é difícil (eu pelo menos tenho muita dificuldade em encontrar endereços quando as pessoas tentam me explicar) a locomoção em locais desconhecidos quando se é turista ou simplesmente quando nunca não entendemos as instruções que nos dão. Seu marido, Antonio, é um fofo e se encontra nas situações mais engraçadas ao ter que apresentar a prostituta Anna, personagem de Penélope Cruz, à família e aos seus futuros sócios porque por engano entrou no seu quarto e foi flagrada pela sua família, além de ter de levá-la ao Vaticano vestida com o micro vestido vermelho.

Não gosto dos filmes de Woody Allen em que o protagonista é ele mesmo, mas nas poucas vezes em que não são (ou são em pequenas doses que "dá pra engolir"), como este, Vicky Cristina Barcelona e Match Point, são maravilhosos. Apesar da universalidade das personagens e das situações que passam, percebi a sutil homenagem à cidade e uma exaltação da mesma com as personagens indiretamente prestigiando a arquitetura, gastronomia, música italiana e até costumes de romanos da classe média atual. O filme tem início, meio e fim contados por um guarda de trânsito sob o olhar de um cineasta egocêntrico, mas que merece congratulações por, apesar das qualidades que interferem no seu trabalho, se manter fiel à si mesmo ("é melhor que o mundo fique separado de ti, do que tu separado de ti mesmo") e por mostrar que bons filmes se fazem não com efeitos especiais e "estrelas", mas com idéias, bom roteiro, boa música com meu tom de cor preferido: amarelo.

Tinha esquecido... tio Woody, da próxima vez escolhe o leste europeu e mostra a desigualdade do continente que a maioria das pessoas não conhecem, por favor? Obrigada.

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