sexta-feira, 29 de junho de 2012

Fiódor Dostoiévski - Noites Brancas

Foto: Maiara Alves
Belye Noci
ISBN: 9788525417480
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução: Natália Nunes
Editora (Br): L&PM
Páginas: 94
Gênero: Literatura Estrangeira

Sobre: Numa iluminada noite de primavera, à beira do rio Fontanka, um jovem sonhador se depara com uma linda mulher, que chora. São Petersburgo está mergulhada em mais uma de suas noites brancas, fenômeno que as faz parecerem tão claras quanto os dias e que confere à cidade a atmosfesra onírica ideal para o encontro entre essas duas almas perdidas. Em apenas quatro noites, o tímido rapaz e a misteriosa Nástienhka passam a se conhecer como velhos amigos, mas algo vem atrapalhar o desenrolar romântico deste fugaz encontro...

Opinião: Li fragmentos de Anna Kariênina, as 132 primeiras páginas de Crime e Castigo, há pouco terminei o pequenininho Noites Brancas e fiquei ainda mais apaixonada pela literatura russa devido aos íntimos ataques verborrágicos característico das personagens. Noites Brancas fala sobre, entre outras coisas, sonhos, expectativas, ilusões, desilusões e me fez acreditar mais em mim mesma.

Em seis capítulos ("Primeira Noite", "Segunda Noite", "História de Nástienhka", "Terceira Noite", "Quarta Noite" e "Amanhã") Dostoiévski nos conta parte da história de um jovem sonhador, de uma jovem impulsiva para o comportamento atual e o encontro destes em quatro noites onde se conhecem, nos contam suas vidas, se apaixonam e desapaixonam: a história é tão breve quanto o encontro deles. As personagens são extremamente sensíveis a ponto de criarem expectativas que seriam consideradas, hoje, absurdas; essas expectativas resultam em emoções fortes com uma rapidez incrível. Como por exemplo a protagonista, Nástienhka que, em apenas dois encontros, constrói um sentimento fortemente fraternal pelo jovem protagonista e, talvez, à primeira vista, se apaixona pelo seu inquilino e guarda o sentimento por mais de um ano sem quase não o conhecer, quase não terem conversado sobre eles próprios, o que pensam, objetivos de vida, etc. Hoje, não sei nada sobre a Rússia da primeira metade do século XIX, mas não deve ser muito diferente dos outros países europeus do período, portanto o comportamento de Nastiénhka é compreensível se comparado ao de outras mulheres de seu grupo social do período - não que o autor tenha se limitado apenas à isto, a complexidade das personagens vão além do meu conhecimento, na verdade sempre digo que para entender de verdade um filme ou um livro é preciso ter uma base de filosofia e psicologia, no mínimo.

A sensibilidade maior está com o "jovem protagonista", sem nome (se foi citado não lembro), que às vezes parece apenas dramático - se o leitor não tiver paciência e ler rápido -, mas que na verdade é apenas sensível mesmo. Olha o mundo como criança, como se tivesse vendo tudo pela primeira vez, mas com intensidade de um adulto e às vezes nostálgico e melancólico como um idoso - ou, apenas, é excessivamente sensível mesmo. Me identifiquei com o "jovem protagonista" no que concerne ao seu jeito de olhar o mundo, por ele notar os detalhes que, hoje, passam desapercebidos pela maioria das pessoas; é conhecendo histórias como essa que, a cada dia, tenho certeza que estou no "tempo errado", ou muito presa à vidas passadas haha. Exemplo disso são as quotes das pág 33, 48 e 67 que dizem exatamente o mesmo que penso, na verdade acho que todos têm pelo menos alguma teoria sobre alguma coisa, eu tenho várias e por conta da minha insegurança só passo a acreditar em mim quando percebo que não sou a única que pensa tal coisa.

Gostei bastante do livro, mas ainda não tenho competência de analisá-lo como se deve, mas fica a dica para presentear aquele seu amigo lunático ou extremamente sensível.


Quotes

O meu coração teve um pressentimento. Por muito tímido que eu seja com as mulheres, naquele caso... é, as circunstâncias eram tão singulares! Em suma: tomei uma decisão, aproximei-me dela e... e teria sem dúvida começado por saudá-la... "Minha senhora!", se não me tivesse lembrado que essa expressão se encontra pelo menos mil vezes em todas essas novelas russas em que se descreve o ambiente da boa sociedade. (p.19)
 Um sonhador - para explicar-me mais concretamente - não é um homem, fique sabendo, mas uma criatura de sexo neutro. Geralmente o sonhador costuma viver fora do mundo, num refúgio, como se se escondesse da luz do dia, e, uma vez instalado no seu esconderijo, vive e cresce nele tal como um caracol na sua concha, ou pelo menos pode-se dizer que é parecido com esse animalzinho singular... (p.33)
Querida Nástienhka, agora que nós dois voltamos a nos encontrar depois de uma longa separação - porque eu já a conheço desde há muito tempo, querida Nástienhka, pois já há muito que ando à procura de alguém... o que é a prova de que eu a procurava e de que o destino tinha escrito que nos havíamos de encontrar precisamente neste loval -, agora abriram-se mil torneiras na minha cabeça e tenho que vazar o meu coração numa torrente de palavras, se não quiser que elas me afoguem. (p. 36)
E recordo que os meus pensamentos de então eram tão tristes como os de agora, e se bem que o passado não seja melhor, parece-nos sempre que foi, como se tivéssemos sentido por sobre a alma essa vaga melancolia que agora nos persegue; que não sentíamos esses remorsos de consciência que nos atormentam de um modo tão doloroso e persistente e não nos deixam um momento de repouso, nem de dia, nem de noite. (p. 48)
Porque quando somos infelizes ficamos mais aptos a compreender o sofrimento alheio; a nossa sensibilidade, assim, não se degrada, mas, pelo contrário, condensa-se e acumula-se... (p. 67)
Quando se ama, não dura muito o aborrecimento. (p. 91)

terça-feira, 26 de junho de 2012

José Rivair Macedo - A Mulher na Idade Média

Imagem: Google Imagens/Reprodução
A Mulher na Idade Média: A Mulher e a família, Realidades sociais e atividades profissionais, Exclusão, preconceito e marginalidade
ISBN: 85-134-61-5
Autor: José Rivair Macedo
Editora: Editora Contexto
Páginas: 108
Gênero: História/História Medieval

Sobre: Este livro utiliza vasto material de consulta, enfoca várias facetas da mulher - esposa, mãe, artesã, comerciante, aristocrata, virgem, dama, bruxa, prostituta, herege, santa e guerreira - e mostra que nem os homens eram tão ativos, nem as mulheres eram tão passivas, como a imagem construída desse período nos faz pensar.

Opinião: O li no fim de Abril para uma atividade da disciplina de História Medieval e gostei apenas por causa do tema, pois Idade Média não é meu forte. Gosto um pouquinho de História Antiga, bastante de Moderna e Brasil, e adoro todo o conjunto de Contemporânea, mas Medieval, pessoalmente, acho um porre haha. Bom, foi minha primeira tentativa de resenha acadêmica e não me saí muito bem, mas valeu muito a experiência e com certeza me sairei melhor nas próximas.

Foto: Maiara Alves

Em A Mulher na Idade Média o historiador José Rivair Macedo desmitifica a noção comum que se tem das mulheres do Ocidente Europeu na Era Medieval. Utilizando vertentes da História Cultural, através das escassas fontes primárias disponíveis, assim como iconografias, o autor descreve os costumes e crenças não apenas das várias mulheres de diferentes grupos sociais da época, mas também dos homens, religiosos e da sociedade em si, baseando-se em aspectos culturais como o cotidiano, representações e imaginário no período da Idade Média (séc. V ao XV).

Com o objetivo de destacar pontos importantes e direcionar linhas de pesquisas atuais sobre as mulheres na Idade Média, esta obra do historiador das sociedades medievais descreve, entre outras coisas, o que a própria sociedade medieval pensava a respeito das mulheres, o quê elas próprias pensavam, como agiam e como foram representadas. Organizado em cinco capítulos divididos por elementos culturais, o livro é satisfatório quanto às argumentações, mostrando a importância da Nova História Cultural ao abordar temas até recentemente pouco explorados; é satisfatório também ao preocupar-se em estratificar a variada gama de mulheres, tentando assim não generalizá-las.

O primeiro capítulo, "Casamento e família", relata a discrepância das várias mulheres no casamento, a partir da posição social e região a qual pertenciam, bem como estruturava-se esse casamento, sua função e posição na família. Algumas mulheres podiam, entre outras coisas, obter o divórcio, porém outras ao mesmo tempo estavam sujeitas ao pai, marido ou "parente homem mais próximo" (p.17). Serviam como mercadorias nas relações familiares e foram usadas como meio de ascensão social dos homens. A Igreja sacramentou o casamento, beneficiando no contexto algumas mulheres para que se evitasse o repúdio dos homens para com elas, porém eram proibidas de sequer demonstrar prazer nas relações sexuais. O autor demonstra como os aspectos considerados negativos - na sociedade atual - sobressaíam-se dos positivos, porém ressaltando que a posição da mulher na família e sua função no casamento não se originaram no período, e que a "desigualdade entre os sexos" (p.14) não foram invenções da Idade Média.

Em "Realidades sociais e atividades profissionais", o segundo capítulo, o autor relata que as mulheres exerceram, hierarquicamente, poder sobre outras mulheres e suas funções laborais de acordo com os grupos sociais  e as localidades que pertenciam. A maioria das mulheres trabalhavam no campo, submissas e ao lado dos maridos. Porém outras, quando necessário, cumpriam decidida e autoritariamente atividades convenientemente reservadas aos homens, pois "precisavam demonstrar autoridade suficiente para evitar a rebeldia dos vassalos e impedir ataques de vizinhos ambiciosos" (p.37), desmitificando então que não foram tão passivas como veicula-se na História Tradicional e nas representações elaboradas pelos homens e pela Igreja. Camponesas, senhoras, domésticas, artesãs, e negociantes são apenas algumas das variadas mulheres que trabalhavam na sociedade medieval, o autor de forma exemplar salienta também que cada mulher tinha suas especificidades em si, e que esses grupos são apenas uma descrição ampla do campo laboral do período.

Além de trabalharem e servirem como mercadoria, houve na Europa Ocidental da Idade Média um grupo de mulheres que, por não seguirem os princípios cristãos, ficaram à margem da sociedade e foram relativamente excluídas, segundo Rivair Macedo, no terceiro capítulo do livro: "As mulheres marginais e excluídas". Neste capítulo, se destaca a coexistência dos princípios cristãos e a "tolerância" nas relações dos "homens de bem" com as mulheres que se prostituíam, o autor desmitifica também a "Caça às Bruxas" que não teria ocorrido na Idade Média, e sim na Idade Moderna, mas que tiveram origem nesse período. Além de atuarem como prostitutas, contraditoriamente existiam [as] mulheres hereges que, nas doutrinas heterodoxas, pregavam a abolição da sexualidade demonstrando o quão complexa, dentro do próprio grupo das mulheres, a sociedade medieval foi.

No quarto capítulo do livro, "Representações e modelos femininos", salienta-se que a forma como as mulheres eram representadas se tratava de idealizações, de como o grupo social masculino dominante desejavam que fossem incutidas a imagem da mulher na sociedade medieval. O autor percebeu quatro modelos: "Eva", "Maria", "A Dama" e a "Mulher ardilosa". Entende-se que para os medievos, "Eva" seria a prova da inferioridade feminina, "Maria" nos poemas, sermões e louvores influenciava ideologicamente no comportamento, na moral; a "Dama" seria a representação de um grupo muito específico de mulheres no imaginário masculino, onde eram usadas para o aperfeiçoamento da oratória dos homens em "disputas" de melhor erudição. Alguns séculos depois, especificamente XIV e XV, a sociedade passa por transformações e a aversão ao feminino torna-se explícita: as mulheres são representadas pejorativamente em resposta à renúncia masculina do casamento sacramental, sendo denominadas de "Mulher ardilosa". Essas representações surtiram efeito e foram perpassadas nos séculos posteriores.

No quinto e último capítulo: "A palavra e a voz das mulheres", mostra-se um lado tradicionalmente pouco conhecido, ou explorado, das mulheres na sociedade medieval: o autor afirma que algumas mulheres tiveram acesso às letras e contribuíram inclusive para os poemas - predominantemente masculinos - trovadorescos, conseguindo até sobreviver de literatura. As mulheres religiosas foram responsáveis pela cristianização dos povos bárbaros e muitas foram canonizadas. Algumas mulheres demonstraram que o sexo feminino podia escrever e "alcançar um lugar de destaque na literatura vernácula de seu tempo" (p.89). Não obstante, outras patrocinavam os escritores, "apadrinhava-os" contribuindo para a cultura cavalheiresca, além de conseguirem "dominar a escrita e penetrar no mundo da criação literária" (p.92) onde seus poemas diferenciavam-se dos poemas trovadores masculinos com maior altivez, por assim dizer, das protagonistas. Poucas mulheres tiveram acesso às letras, obviamente as aristocratas, porém foi importante o autor realçar o singular caso da poetisa italiana Cristina, que não apenas conseguiu sustentar a si e os filhos com a literatura, como também sobressair-se na sociedade denunciando homens e clérigos e de certa forma atuando no campo político. Outro caso singular é o de Joana d'Arc que não só participou de combates e conflitos, como os liderou e foi reconhecida na sociedade medieval em uma atividade, na época, reservada aos homens.

O livro de José Rivair Macedo mostra-se interessante ao utilizar uma abordagem influenciada pela Nova História Cultural na escolha do tema - uma vez que a mulher até então fez parte de um grupo que era minoria na História Tradicional, e a importância em buscar conhecer e explorar as sociabilidades, costumes, crenças e representações dos grupos minoritários. O autor cita outros historiadores com estudos na área como Georges Duby (p.29), Jacques Heers (p.38), Jacques Le Goff (p.47), Danielle Régnier-Bohler (p.89), entre outros, porém seu livro, "A Mulher na Idade Média", contribui apenas como um manual, pois trata-se de uma visão ampla da mulher na Idade Média. Seus argumentos, sustentados pelos documentos e iconografias, de que algumas poucas mulheres atuaram na política, em guerras, obtiveram divórcio, foram alfabetizadas e realizaram atividades consideradas exclusivas do sexo masculino servem como base para uma análise histórica contra teorias misóginas e machistas, assim como as agressões físicas sofrida pelas mulheres de famílias germânicas podem ser utilizadas também para uma análise histórica da violência contra a mulher.

A descrição no livro do cotidiano das mulheres no trabalho, no casamento, na família e na sociedade, pode ser utilizado também como uma análise histórica à outros crimes defendidos pelo Direito das Mulheres da cartilha da ONU, bem como análise histórica das suas representações.


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Tim Burton - Dark Shadows

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Dark Shadows
Direção: Tim Burton
Roteiro: John August, Seth Grahame-Smith
Ano: 2012/EUA
Gênero: Comédia/Fantasia
Elenco: Johnny Depp, Eva Green, Michelle Pfeiffer, Helena Bonham Carter, Bella Heathcote, Chloë Grace Moretz, Gulliver McGrath, Jackie Earle Haley, Johnny Lee Miller, Christopher Lee, Alice Cooper

Sinopse: 1752. Joshua e Naomi Collins deixam a cidade inglesa de Liverpoll juntamente com o filho, Barnabás, rumo aos Estados Unidos. A intenção deles era escapar de uma terrível maldição que atingiu a família. Vinte anos depois, Barnabás é um playboy inveterado que tem a cidade de Collinsport aos seus pés. Após seduzir e partir o coração de Angelique Bouchard, sem saber que era uma bruxa, ele é transformado em vampiro e preso numa tumba por dois séculos. Quando enfim desperta, dois séculos depois, encontra sua propriedade em ruínas e os poucos familiares ainda vivos escondem segredos uns dos outros. Em meio a um mundo desconhecido, Barnabás se interessa por Victoria Winters, a tutora do jovem David.

Foto: Maiara Alves
Opinião: Burton, Depp e Carter juntos de novo em um filme que, embora a autoria do diretor seja perceptível, o roteiro também se faz notar, na mesma proporção, que não é do mesmo, mas desta vez do autor de Orgulho e Preconceito e Zumbis, Grahame-Smith. Personagens com histórias interessantíssimas (mas muito mal contadas), um cenário deslumbrante, a excêntricidade que Johnny Depp consegue dar ao protagonista e a trilha sonora são os pontos que devíamos passar um lumicolor. Lumicolor também na parte do contrato em que diz que Tim Burton deverá escrever os filmes que dirige, definitivamente.

Meu cineasta preferido na adolescência, ou até quatro anos atrás, era Burton - perdi a conta de quantas vezes vi Noiva Cadáver, A Fantástica Fábrica de Chocolate, Vincent, Sweeney Todd e até mesmo O Estranho Mundo de Jack e Edward Mãos-de-Tesoura na infância. Em algum momento a gente cresce um pouquinho e fica de saco cheio de cores frias, rostos cadavéricos e de todo o mundo fantástico fantasioso de Burton, porém da excêntricidade de suas personagens e de suas histórias em si não enjôo. Johnny Depp é um dos poucos atores que, propositadamente, conseguem me fazer rir de verdade, mas isso só acontece nos filmes de Burton e tenho a impressão que as outras personagens que ele interpreta são espelhos das criações do cineasta. A estrela desta vez é Barnabas Collins, o herdeiro de uma família de comerciantes que, por não corresponder ao amor de uma bruxa, é transformado em vampiro e trancafiado num caixão por quase dois séculos. Ao acordar na década de 70 do século XX estranha a cidade e seus moradores, o que o torna - para nossa alegria - insuportavelmente engraçado e, da melhor forma possível, estranho: estranho só do jeito que Burton e Depp conseguem construir uma personagem, personagens estranhos adoráveis ♥ haha. Além de Burton não ter escrito o roteiro, este filme tem outra coisa incomum dos outros: Johnny Depp com Eva Green.

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
 A última combinação de protagonistas que pensaria para qualquer filme, quem dirá de Burton - embora a Isabelle, de The Dreamers, pareça ser um bom par para o Depp fora das telas. Green tem simplesmente 31 anos /invejamodeon e protagonizou a cena de sexo mais engraçada que já vi no cinema: de um vampiro e uma bruxa que destruiu o cenário de uma forma que com certeza deixaram os produtores de Breaking Dawn com a cara no chão, se comparada com a noite de núpcias de Edward e Bella. Victoria/Josette perde lugar pra ela, que além de muito bonita interpreta uma das melhores personagens da história. Esperava mais de Michelle Pfeiffer e de sua Elizabeth Collins, ou talvez também não tenha conseguido chamar atenção por causa de Green e sua Angelique. Na verdade, as fantásticas histórias das personagens - mal contadas no filme - o deixam confuso e entrega o fato de que não foi escrito por Burton.

Sim, é uma adaptação de uma série de TV e talvez, se o tivesse escrito, Burton não teria liberdade de desenvolver melhor a história das personagens. Mas por ser uma série de TV, com fãs como Madonna e Tarantino, não proíbe os mais curiosos de visualizarem, ao menos em palavras por alguma fanfic, o que acontece com o fofo David, Carolyn, a Dra. Carter haha, o pai do David, ou a história daquela senhorinha, a trajetória da bruxa e até mesmo com mais detalhes a história de Barnabás. São personagens com histórias incríveis, já disse, que dariam no mínimo uma série de livros fantástica se escrita por alguém que perceba o potencial destas personagens e suas histórias.

Gostei no todo, principalmente de Depp que não me faz rir de verdade desde seu Willy Wonka, em 2005. Apesar do roteiro ser confuso, a história é divertida a ponto de se tornar um clássico favorito da sessão da tarde como, talvez, Esqueceram de Mim haha. Um bom filme para ver com a família, num dia de domingo talvez, mas nem de longe um dos melhores de Tim Burton.

Trailer


domingo, 17 de junho de 2012

Rupert Sanders - Snow White and the Huntsman

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Snow White and the Huntsman
Direção: Rupert Sanders
Roteiro: Evan Daugherty, Jon Lee Hancock, Hossein Amini
Ano: 2012/EUA
Gênero: Fantasia
Elenco: Kristen Stewart, Chris Hemsworth, Charlize Theron, Sam Clafin

Sinopse: O caçador Eric foi contratado pela Rainha Má para encontrar a Branca de Neve, que escapou de seu castelo. Contudo, quando ele descobre que o objetivo de sua patroa não é só capturar, mas também assassinar a jovem, ele passa a ajudá-la em sua fuga, dando início a uma perigosa aventura. 

Foto: Maiara Alves
Opinião: Readaptação cinematográfica da clássica história de contos de fadas que permite um retorno à Idade Média e às representações das mulheres do período. Um elenco "lindo de morrer", uma floresta mal-assombrada e, entre outras coisas, cores frias e um exército "mágico", fazem desta nova proposta algo interessante de ver, pois nos traz respostas à questões pouco explicadas da versão popular da Disney, além de nos mostrar um outro lado que sempre esteve ali, porém exigia um pouco mais de imaginação de seus espectadores.

Não sei muito sobre a versão contada pelos Irmãos Grimm, li a crítica do Omelete e, segundo eles, o livro registra a história contada pela tradição oral européia do século XIX - me pergunto se há alguma relação com as histórias nacionais produzidas especialmente neste período -, e pelo que dizem, esta versão foi mais fiel à "original". Na historiografia, principalmente nas histórias européias, escrever sobre a Idade Média significou no século XIX uma tentativa (e êxito) de construir uma identidade, uma nacionalidade, porém a Idade Média foi muito mais que isso, mas não convém aprofundar agora esta questão. Confesso que não consegui identificar o motivo do resgate aos contos de fadas e histórias medievalistas (como, por exemplo, A Garota da Capa Vermelha - livro e filme), seria para reconstruir/resgatar uma identidade dos europeus nesse início de decênio em crise? Seja qual for o motivo, percebe-se uma tentativa de romper com a versão cinematográfica original de 1937 e a pretensão de conquistar os jovens adultos (e crianças...) de hoje.

Imagem: Google Imagens/Reprodução

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Mas algo que não se rompeu nesta versão, e uma coisa que senti ainda na hora do filme e quando voltava para casa, foram as representações da mulher na Idade Média, criadas pelos nobres e pelo clero, que aprendi em A Mulher na Idade Média (em breve comentário aqui) do historiador medievalista José Rivair Macedo, no que diz respeito às duas principais personagens femininas: Ravena, a rainha e madrasta má, e à Branca de Neve, a princesa inocente, submissa, alienada. A primeira versão foi lançada, segundo o IMDB, em 1937, na primeira metade do século XX quando o movimento feminista ganhava força em várias partes do mundo e precisava ser combatido por aqueles que eram contra. Não posso falar com propriedade sobre este assunto, mas suponho que Walt Disney e/ou Hollywood na época o tenha sido, digo isso porque a Branca de Neve de 1937 lavou, passou, cozinhou e cuidou - com toda a típica felicidade das princesas-disney - da casa dos sete anões e só foi salva pelo beijo de um homem como se ela mesma não pudesse sozinha salvar-se. Talvez o foco hoje não seja este, já que a "a pele branca como a neve" do século XXI pertence à Kristen Stewart que interpreta uma Branca de Neve bélica, autonomamente corajosa e forte, porém os estereótipos medievos da mulher continuam lá: como a idéia da mulher ser uma bruxa, extremamente poderosa capaz de controlar homens, etc.

Apesar destes e outros pesares - além, com certeza, dos pesares técnicos que desconheço totalmente -, é interessante de se ver porque é mais coerente se for comparado a versão clássica. Desta vez, os motivos que levaram a Madrasta ser má ficam claros (na história, na intenção sem bem qual é...), bem como a morte do Rei, o Caçador ter aceito a missão da Madrasta, os Anões, e até a participação do Príncipe (que na verdade é filho de um duque, bem coerente com o período) foi relevante e fizeram muito mais sentido que Snow White and the Dwarfs. O que revolucionou essas readaptações/reinterpretações dos clássicos são as atitudes que as protagonistas Alice de Tim Burton, A Garota da Capa Vermelha de 2011 e esta Branca de Neve tomam: elas ousam, rompem a etiqueta do mundo dos contos de fadas, não querem mais finais felizes e isso, sem dúvida, numa tentativa de aproximar as personagens das atuais mulheres do mundo real.

Trailer


sábado, 16 de junho de 2012

Laurentino Gomes - 1822

Foto: Maiara Alves
1822
ISBN: 9788520924099
Autor: Laurentino Gomes
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 351
Gênero: História do Brasil

Sobre: Nesta nova obra, o escritor Laurentino Gomes, autor do best-seller 1808, sobre a fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, mostra como o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado, deu certo em 1822 por uma notável combinação de sorte, improvisação, acasos e também de sabedoria das lideranças responsáveis pela condução dos destinos do novo país, naquele momento de grandes sonhos e muitos perigos.

Opinião: Comprei o livro em Abril do ano passado, quando ainda não estudava História e só o li este ano - acredito que no momento certo -, quase no fim da disciplina que aborda a transição no Brasil de Colônia para Império. Não tiro seu valor: foram milhares de cópias vendidas entre o 1808 e este, 1822; é importante também que o livro tenha não apenas sido bastante vendido, como também lido, porém o jornalista deixa brechas para interpretações inocentemente tendenciosas de leigos. E isto é grave.

Divido em 22 capítulos, com um recorte de 45 anos (1789-1834: desde a decapitação dos monarcas franceses, à morte de D. Pedro I) e utilizando fontes impressas o autor relata os fatos que culminaram no cultuado 1822. Gomes neste livro foi orientado por Alberto da Costa e Silva, renomado historiador, e também diplomata, brasileiro. Mas, talvez por esta condição e com o objetivo de valorizar possíveis laços entre Brasil e Portugal (como foi o objetivo de 1808) relata que o Processo de Independência do Brasil "resultou menos da vontade de brasileiros do que das divergências entre os próprios portugueses" (p.21). Os portugueses contribuíram sim, mas a Independência política do Brasil de Portugal foi muito além disto, como disse na minha prova.

Sobre este assunto, uma das principais questões de debate para historiadores é: como a América portuguesa permanceu unida enquanto que a América espanhola se fragmentava em territórios independentes? Para Gomes, baseado em Sérgio Buarque de Holanda e Maria Odila Leite da Silva Dias, a elite colonial de todas as províncias temiam uma rebelião escrava (como a do Haiti, por exemplo), já que estes constituiam a maior parte da população. Outro ponto interessante é sobre o "mito" do grito da Independência e sobre o famoso quadro de Pedro Américo veiculados nos livros didáticos: para alguns não ouve o grito e o quadro de Américo teria sido inspirado em "Napoleão Friedland" do francês Jean-Louis Ernest.

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Gomes ressalta que a obra de Américo tinha o objetivo de fortalecer o ocorrido bem como o imaginário às vésperas da proclamação oficial da República. Além desse mito, Gomes desconstrói (ou mostra apenas determinadas versões) outros como o grito no Rio Ipiranga ou D. Pedro ter composto o atual Hino da Independência. Além de enaltecer a relação histórica entre Portugal e Brasil, o autor elege José Bonifácio à patriarca da Independência e afirma que "sem ele, o Brasil de hoje provavelmente não existiria" (p.146). Um leitor leigo interpretaria isto de forma errônea, pois da mesma forma que os historiadores não sabem o que manteve o Brasil unido no século XIX não se pode creditar apenas uma pessoa à isto, Bonifácio contribuiu sim para o Processo de Independência, bem como nas medidas que mantiveram o território unido, mas creditá-lo somente surtiria o mesmo efeito que os positivistas objetivam com a história tradicional e todo o trabalho do autor (e de historiadores com outras obras) em desconstruir os mitos e interpretações tendenciosas a respeito do que ocorreu em 1822 seria em vão. 

Uma das brechas está na página 220, quando sobre o Poder Moderador o autor afirma:
"Lido ao pé da letra, poderia dar a entender que D. Pedro I mantinha a condição de monarca absoluto, tanto quanto haviam sido seu pai, D. João VI, sua avó, D. Maria I, e seu bisavô, D. José I. Mas era só aparência. O simples fato de haver uma constituição, ainda que outorgada, significava que o poder do imperador, doravante, tinha limites."
Na teoria o Poder Moderador tinha limites sim, mas assim como a nossa constituição atual, nem sempre as leis se fazem na prática e isso ocorreu com o Poder Moderador; da forma como o autor colocou subentende-se que não. Outra colocação "perigosa" é a de que o inglês Cochrane teria decidido a Independência aqui na Bahia, e, assim como não devemos creditar as medidas de Bonifácio, como conselheiro do Imperador, à respeito da união do território na época, responsabilizar Cochrane pela vitória dos brasileiros sob os portugueses pela Independência aqui na Bahia é um erro.

Estou no fim do segundo semestre e pude ver algumas colocações equivocadas no livro, provavelmente daqui a alguns anos verei mais e mais, e só as percebi porque tive acesso à outras fontes, outros pontos de vista e esta é a mesma postura que todos que lêem livros de História (e de qualquer outra área de conhecimento) devem ter. Utilizei o livro, bem como outras fontes, para a prova sobre o processo de independência e o considero uma análise quase ampla da discussão historiográfica sobre a Independência.

Foto: Maiara Alves
Foto: Maiara Alves
Foto: Maiara Alves
Quotes
"A Independência do Brasil ocorreu no meio de uma transformação importante na economia brasileira. A produção de açúcar e a mineração de ouro e diamantes estavam em decadência. Eram as duas grandes riquezas que haviam sustentado a prosperidade da colônia e sua metrópole nos séculos anteriores. Muito dependente da mão de obra escrava, a produção açucareira entrara em declínio devido ao crescente combate ao tráfico negreiro pela Iglaterra e à mudança de tecnologia nos mercados competidores." p.59
"Pouco mais adiante, ao passar pela cidade de Paranaguá e a vizinha vila de Guaratuba, Saint-Hilaire encontrou pessoas em estado de desnutrição tão profunda que adquiriram o hábito de comer terra na tentativa de repor vitaminas e sais minerais." p.71
"Um segundo enigma tem a ver com a sua vida privada. Bonito, famoso, solteiro e sem filhos, Neukomm tem seu nome numa lista de quatro homossexuais não assumidos da corte de D. João, elaborada pelo antropólogo Luiz Mott, presidente do Grupo Gay da Bahia. Os outros três seriam D. João de Almeida de Melo ne Castro, o conde de Galvêas; Francisco Rufino de Sousa Lobato, visconde de Vila Nova Rainha; e o próprio D. João.". P. 78
"A Bahia decidiu o futuro do Brasil na sua forma atual, mas a festa do Dois de Julho é hoje praticamente desconhecida pelos brasileiros das outras regiões. Ao contrário do Carnaval, e apesar de também reunir milhares de pessoas, raramente é notícia nos jornais e emissoras de rádio e televisão fora da própria Bahia. Porém, um visitante desavisado que chegar à capital baiana nessa data perceberá logo ao desembarcar uma nota dissonante: o aeroporto de Salvador, que até alguns anos atrás se chamava Dois de Julho, mudou de nome. Agora, chama-se Luís Eduardo Magalhães, em homenagem ao político baiano falecido em 1998. É uma prova de que o coronel da atualidade será sempre mais lembrado do que todas as lutas gloriosas do passado." p.206
 Laurentino Gomes esteve no Programa do Jô, em 2010, falando sobre o livro.






A Transferência da Corte para o Brasil e o Processo de Independência (1808-1822)

Foto: Maiara Alves
 


 A Transferência da Corte para o Brasil e o Processo de Independência (1808-1822)

A Independência do Brasil é resultado de um processo intimamente relacionado aos ideais da Revolução Francesa no que concerne, entre outros fatores, à mudança da Família real portuguesa, às medidas de livre comércio e às manifestações nas províncias da América portuguesa e em Lisboa. Alguns historiadores atribuem à transferência da Família Real portuguesa para o Brasil como propulsora da Independência, onde a colônia foi consideravelmente transformada. O contexto em que seu deu o processo foi influenciado pelas idéias liberais oriundas da Revolução Francesa, contribuindo assim no processo de independência no que diz respeito às medidas da Coroa a partir do liberalismo no seu viés político-econômico.

Em 1807, após o imperador francês Napoleão Bonaparte decretar o bloqueio continental, que previa o fechamento dos portos europeus ao comércio de produtos britânicos, Portugal teve que escolher entre aderir o bloqueio continental ou aceitar a sugestão da Inglaterra, sua antiga aliada, de embarcar para o Brasil. O início do século XIX foram tempos difíceis na Europa para as monarquias, onde as guerras napoleônicas representavam o fim do Antigo regime, das monarquias absolutistas, que contribuiu para D. João VI decidir aceitar a oferta da Inglaterra. Há alguns anos, os conselheiros de D. João já cogitavam a mudança da Corte para o Brasil. D. Rodrigo de Souza Coutinho, em 1803, já aconselhava que em hipótese de invasão francesa, existiria "a certeza de ir em qualquer caso V.A.R. criar no Brasil um grande império, e segurar para o futuro a reintegração completa da monarquia em todas as suas partes" (CARVALHO, Marieta: Uma idéia de cidade ilustrada: as transformações urbanas da nova corte portuguesa (1808-1822). Porém, foi o acordo de 1807 com a Inglaterra - que consistia na troca de proteção naval durante a viagem para o Rio de Janeiro, pela abertura dos portos do Brasil ao comércio com as nações estrangeiras - que trouxe a Corte para o Brasil em 1808. Esta mudança da Corte para a Colônia resultou em medidas que aceleraram o processo de Independência.

Na primeira escala no Brasil, em Salvador, o príncipe regente põe em prática o acordo assinado com a Inglaterra, abrindo os principais Portos ao comércio com as nações amigas. José da Silva Lisboa, economista e jurista baiano, influenciado pelo liberalismo econômico de Adam Smith, aconselhou D. João abrir os principais Portos do Brasil - e não apenas o de Santa Catarina, como consistia no Tratado de 1807 -, apresentando-lhe a conveniência em liberar o comércio do Brasil como forma de estimular o desenvolvimento econômico da Colônia (GOMES, Laurentino: 1808), fortalecendo assim o Império contra os princípios revolucionários franceses e contra Napoleão (KIRSCHNER, Tereza Cristina: Visconde de Cairu, Itinerários de um Ilustrado Luso-Brasileiro). Essa medida régia consistia quase que no fim do pacto colonial, onde a América portuguesa praticamente deixava de ser colônia - no que concerne ao monopólio exercido pela metrópole -, influenciando consideravelmente o processo de emancipação política do Brasil de Portugal. 

Após 35 dias em Salvador, no dia 26 de Fevereiro, D. João VI embarca para o Rio de Janeiro onde toma a medida de concessão de liberdade de comércio e indústria manufatureira, permitindo assim a instalação de indústrias no Brasil. Ainda em Salvador, o príncipe regente autorizou a abertura de novas estradas e rompeu o isolamento que até então vigorava entre as províncias (DIAS, Maria Odila: A Interiorização da Metrópole). D. João tomou várias outras medidas com o objetivo de transformar a colônia para reconstruir nos trópicos o império americano de Portugal, porém sua atenção estava voltada para o Rio de Janeiro, onde foram implantadas diretamente as principais mudanças - e, obviamente, ao alcance apenas da elite. Essas transformações voltadas principalmente para o Rio de Janeiro e outras províncias da atual região Sudeste, não agradaram às outras províncias que não foram tão beneficiadas quanto estas, gerando assim revolta da população de outras províncias.

A abertura dos portos e outras medidas, em 1808, resultaram na oposição dos negociantes da Bahia à Coroa, segundo a historiadora Tereza Cristina Kirschner, pois beneficiavam muito mais os estrangeiros do que portugueses e brasileiros. O tratado de 1810, onde nem os portugueses conseguiam competir com os produtos oriundos da Inglaterra - visto que as taxas alfandegárias eram vantajosas aos ingleses -, e também contribuiu para fomentar idéias, não só na província da Bahia como nas demais da atual região Nordeste, contra o governo do Rio de Janeiro onde a Corte havia se instalado e, a partir de 1815, se tornado capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1817, na província de Pernambuco, essas idéias resultam em um movimento que refletia o descontentamento das províncias quanto ao pagamento de impostos pesados, impostos esses que financiavam as despesas da corte portuguesa no Rio de Janeiro.

O movimento em Pernambuco é consequência da disseminação das i´deias liberais francesa e americana no sentido político-econômico, em que os revolucionários, a fim de combater a opressão colonial que sentiam ainda haver sobre eles, pretendiam criar uma república independente na atual região Nordeste. Pelo breve período em que obteve êxito o novo governo não conseguiu apoio das outras províncias e, dois meses depois, tropas portuguesas invadiram recife e derrotaram a revolta. Mesmo tendo sido derrotada, a revolta causou apreensão no governo e abalou a confiança da Coroa, pois, segundo o historiador estadunidense Roderick Barman, em Brazil: the forging of a nation, "a estrutura da autoridade entrou em colapso porque os elementos da sociedade mais identificados com a Coroa tinham colaborado ativamente com o movimento rebelde." O movimento em Pernambuco foi um dos fatores que contribuíram para acelerar o processo de Independência, uma vez que foi articulado por membros da elite que pretendiam a emancipação do governo português para negociar diretamente com as nações amigas sem ter que pagar os altos impostos ao governo português, e por de certa forma, indiretamente influenciar a população de outras províncias.

Porém alguns historiadores, como Sérgio Buarque de Holanda, acreditam que a Independência é resultado das divergências entre portugueses, desencadeada na Revolução do Porto em 1820, e não no processo de mobilização da colônia na defesa de interesses comuns contra a dominação da metrópole. Infestados pelas idéias liberais, os portugueses exigiam, entre outras coisas, uma nova constituição, a volta de D. João VI para Portugal e do Pacto Colonia. D. João então volta para Portugal após transformar o Brasil e dar-lhe subsídios para se tornar um país independente.

A vinda da Família Real portuguesa para o Brasil, em 1808, contribuiu para acelerar o processo de independência uma vez que, talvez, tenha sido inevitável devido aos movimentos emancipacionistas que já existiam antes mesmo da vinda da Corte. As medidas régias aconselhadas pelos vários funcionários luso-brasileiros da Coroa portuguesa e conselhos da Coroa britânica - influenciado pelas idéias liberais político-econômicas -, de certa forma prepararam o Brasil para a emancipação, pois, segundo o historiador Alan Manchester em sua obra Presença Inglesa no Brasil, "o contato com o mundo exterior despertou a colônia entorpecida: introduziram-se nova gente, novo capital e novas idéias. Como consequência, os brasileiros acharam que seu destino era maior e mais importante". O historiador Oliveira Lima acredita que D. João assegurou a integridade nacional e deu início à classe dirigente que se responsabilizaria pela construção do novo país. Conclue-se então que, as medidas civilizatórias tomadas por D. João VI ao transferir a Corte portuguesa para o Brasil deram subsídios  e geraram conflitos que resultaram na emancipação política do Brasil de Portugal. O monarca português não deixou o país pronto, obviamente, mas contribuiu efetivamente para torná-lo independente.

sábado, 2 de junho de 2012

Brad Silberling - City of Angels

Imagem: Google Imagens/Reprodução
City of Angels
Direção: Brad Silberling
Roteiro: Win Winders, Peter Handke
Ano: 1998/EUA-Alemanha
Gênero: Romance
Elenco: Nicolas Cage, Meg Ryan, Andre Braugher, Colm Feore

Sinopse: Em Los Angeles, uma dedicada cirurgiã fica arrasada quando perde um paciente durante uma operação, no mesmo instante em que um anjo, que estava na sala de cirurgia, começa a se sentir atraído por ela. Em pouco tempo ele fica apaixonado pela médica e resolve ficar vísivel para ela, a fim de poder encontrá-la frequentemente, o que acaba provocando entre os dois uma atração cada vez maior, apesar dela ter um sério relacionamento com um colega de profissão. O ser celestial não pode sentir calor, nem o vento no rosto, o gosto de uma fruta ou o toque da sua amada, assim ele cogita em deixar de ser um imortal para poder amar e ser amado intensamente.

Opinião: A melhor coisa pra se começar o dia bem é tomar um café com muitas bolas de leite em pó ao redor da caneca e ver/sentir algo que te motive a fazer deste dia o melhor de todos. Eu costumava ser um pouquinho mais feliz quando o mundo dos livros de ficção e filmes faziam parte do meu mundo, há quase um ano tenho me dedicado a estudar tragédia e sofrimento História e sem dúvida isto mexeu muito comigo no que concerne à visão de mundo, atitudes e até na personalidade: me tornei mais pessimista do que nunca. Por isso, tinha esquecido como é pensar que o mundo não é tão ruim quanto parece, que realmente há alguém cuidando de nós e que a felicidade sempre nos encontra no fim, literalmente, das contas.

O filme foi lançado há quatorze anos e é um clássico do gênero nas suas características: lindas músicas na trilha sonora, um roteiro que emociona, belos protagonitas e, a dependender do ponto de vista, um final feliz. Assim como em Titanic - filme lançando quase um ano antes - acredito que o filme tenha marcado pela impossibilidade da concretização do romance. But You/ You're not allowed/ You're uninvited... canta Alanis Morissette nos créditos finais (uma das minhas músicas preferidas) resumindo o romance de Seth e Maggie. O anjo e a mortal não podiam ficar juntos pelas diferentes dimensões em que estavam e porque, naquela vida, simplesmente não deviam estar juntos. Parece fantasia, historinha de conto de fada da Disney pra quem vê, mas para quem acredita na doutrina espírita uma realidade. 

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
 Destino, missão ou qualquer outro termo utilizado para designar nossos objetivos no plano terreno é um conceito muito amplo e muito difícil - pra quem não acredita - de explicar. Aparentemente Maggie cumpriu sua missão ao trazer Seth para o plano terreno - e com certeza neste terá um propósito, uma missão, um objetivo: cumprindo seu destino. Se não fosse assim, provavelmente não seria o encarregado de buscar aquele paciente, naquela hora e não a teria visto. Por acreditar na doutrina espírita (não me denomino espírita, acho que as coisas vão além do que diz o espiritismo), não vejo a hora de cumprir minha missão e não ter de reencarnar mais e me ver livre do plano terreno, então, seria muito difícil fazer o que Seth fez: deixar sua eterna "vida" feliz como anjo e mudar-se para esta dimensão horrível por causa de um ser falho e irracional. Justamente por isso, acredito que Meggie tenha cumprido sua missão ao ter trazido Seth para o plano terreno, e este, cumprindo outra parte do seu destino teria vindo para este plano.

Histórias de anjos com mortais são a coisa mais linda de se ler, ver e imaginar. A maioria dos seres humanos são horríveis, o mundo é horrível, e acreditar nisto torna a vida um pouco mais tolerável, na verdade tudo que nos motiva, nos dá esperança nos ajuda a viver e por isso amo algumas literaturas e filmes específicos. Como parei de ler estes tipos de livros, os únicos que li sobre anjos até hoje foram os de Lauren Kate, Becca Fitzpatrick e Alexandra Adornetto. Houveram indiretamente anjos em outros livros, mas os destas autoras são especificamente sobre eles. Quanto ao filme é lindo, como já disse; destaque para as trilhas sonoras e para Cage que estava MUITO lindo psicológica e fisicamente - adoooro a voz dele (vi o filme legendado) e aquela carinha-de-sofrimento-por-ser-um-anjo-que-não-pode-ficar-junto-da-mulher-humana-que-gosta haha.

Trailer


sexta-feira, 1 de junho de 2012

James McTiegue - The Raven

Imagem: Reprodução




The Raven
Direção: James McTiegue
Roteiro: Ben Livingston, Hannah Shakespeare
Ano: 2012/EUA
Gênero: Suspense
Elenco: John Cusack, Alice Eve, Luke Evans, Brendan Gleeson, Kevin McNally

Sinopse: O escritor Edgar Allan Poe está na caça de um assasino serial que imita os crimes de seus contos e ainda sequestrou sua noiva Emily. Para ajudá-lo na investigação, o detetive Emmet assume o caso e pretende dar um fim aos terríveis assassinatos, que são seguidos de charadas criadas pelo criminoso que desafia a inteligência do autor num jogo de gato e rato.

Foto: Maiara Alves
Opinião: The Raven é cinema e literatura, minhas paixões juntas e com certeza o teria aproveitado melhor se estivesse estudando Letras, mas valeu muito a pena ver Cusack nos lindos trajes masculinos da primeira metade do século XIX. Fazia mais de um mês que não ia ao cinema, estava enlouquecendo todo esse tempo estudando e na última quarta-feira, 30 de Maio, filei aula de Hist. Medieval pra vê-lo e prometi a mim mesma não me dedicar tanto aos estudos no próximo semestre (como se eu não aprendesse nada nos filmes haha).

Não via tanto sangue no cinema desde O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (T. Burton), não gosto de ver sangue espirrando nem qualquer tipo de tortura física - apesar de gostar muito dos filmes de Tarantino, por exemplo, e de ser um pouquinho masoquista (gosto da dor em mim, não nos outros #estranha). Todo esse sangue, torturas e mortes "criativas" são realizadas por um fã, no mínimo, muito excêntrico de Poe que demonstra sua admiração pelo escritor pondo em prática suas histórias de terror. Não conheço as obras de Poe, só O Corvo mesmo que está presente em todos os livros didáticos de Língua Portuguesa e talvez por isso minha opinião sobre o filme seja bem limitada (apesar de o filme ter que falar por si...).

O auge da minha vida "cinéfila" há um pouco mais de quatro anos estava centrada em Tim Burton, em cenários sombrios e muitas caveirinhas, ainda gosto bastante do seu estilo, mas o drama acabou tornando-se meu preferido. The Raven não possui uma fotografia com cores mortas e escuras quanto as dos filmes de Burton, mas talvez seja tão sombria quanto com os constantes dias nublados e as mortes bizarras (tem até um baile de máscara com luzes amareladas assim como as do Barbeiro Demoníaco...). Não sei até que ponto o Poe do filme é fiel ao original, mas a proposta para a causa da sua misteriosa (dizem) morte o é: a idéia de Poe ter morrido por causa de sua obra é incrível devido à grandiosidade do escritor.

Imagem: Google Imagens/Reprodução

Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Imagem: Google Imagens/Reprodução
Entre outras coisas, o melhor do filme e no que se resume: a morte de Poe. É a primeira cena: Poe sentado delirando num banco pouco antes de morrer. O resto conta o que teria causado sua morte que, no caso, foi uma troca da sua vida pela de uma jovem que teria morrido por sua causa. Me arrisco a escrever algumas crônicas literárias (não saem do editor de texto, obviamente), e a sensação que tenho é que as personagens realmente existem e que não os crio, eles só existem através de mim; muitos escritores, como Jorge Amado por exemplo, têm esta mesma sensação. A idéia de Edgar Allan Poe ter morrido envolto e por causa das suas personagens é incrível e, por agora, o único motivo pelo qual o recomendaria: a criativa idéia da causa da morte de um dos maiores escritores do mundo. 

Considero interessante também a relação do fã, o causador de todas as mortes e torturas baseadas nas histórias de Poe, com o autor e as sensações do autor ao vê-las. No filme, Edgar Allan Poe ao escrever suas histórias não imaginaria que influenciaria e, literalmente criaria, uma personagem real tal qual os são nas palavras. O diálogo no final ilustra bem esta idéia e talvez tenha sido por isso que o roteiro de Ben Livingston e Hannah Shakespeare tenha sido posto em prática. O recomendaria somente por estas idéias. As mortes baseadas nas histórias de Poe, a decadência profissional do fim da vida de sua vida com bebidas e dívidas, a busca pela mocinha em perigo, as piadas de Poe são irrelevantes mediante a isto.


Trailer


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