terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Jean-Luc Godard - À Bout de Souffle

Imagem: IMDB
À Bout de Souffle
Direção: Jean-Luc Godard
Roteiro: Jean-Luc Godard, François Truffaut
Ano: 1959/França
Gênero: Policial
Elenco: Jean-Paul Belmondo, Jean Seberg, Daniel Boulanger, Jean-Pierre Melville

Sinopse: Após roubar um carro em Marselha, Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo) ruma para Paris. No caminho mata um policial, que tentou prendê-lo por excesso de velocidade, e em Paris persuade a relutante Patricia Franchisi (Jean Seberg), uma estudante americana com quem se envolveu, para escondê-lo até receber o dinheiro que lhe devem. Michel promete a Patricia que irão juntos para a Itália, no entanto o crime de Michel está nos jornais e agora não há opção. Ele fica escondido no apartamento de Patricia, onde conversam, namoram, ele fala sobre a morte e ela diz que quer ficar grávida dele. Ele perde a consciência da situação na qual se encontra e anda pela cidade cometendo pequenos delitos, mas quando é visto por um informante começa o final da sua trágica perseguição.

Opinião: Liberdade. Liberdade foi a sensação que tive durante todo o filme desde dirigir em alta velocidade, matar alguém, falar sozinho, roubar, mentir, pensar o que diz e amar e ser morto pela pessoa que se ama. Eu não disse que, provavelmente, alguém da Nouvelle Vague me venderia Paris? Godard o fez.

Michel Poiccard fez pelo menos uma coisa que todo mundo gostaria ou já pensou em fazer, e isso é liberdade. Durante toda a nossa vida tivemos o desejo de matar alguém, de roubar um carro, dizer tudo o que pensa e todas aquelas outras coisas que o Poiccard faz no filme aparentemente sem remorso algum – até na morte o cara estava “de bom humor”. E ele é um charme! Não é bonito como o próprio diz (no fim me apaixonei por ele, juro), mas tem muito charme, principalmente quando passa o dedo nos lábios.

Imagem: IMDB
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É romântico e engraçado, mas romântico e engraçado com um conceito totalmente diferente do que eu costumava achar as comédias românticas dos anos ‘90 e ’00, por exemplo. A polícia de Paris é engraçada, os olhares, as caretas e até as “maldades” que o Michel diz à Patrícia é romântico, doce, meigo. As quotes são quase todas interessantes de destacar, me controlei pra não escrever todas aqui e, pelo que andei lendo na internet, a versão legendada que eu baixei está um pouco diferente das outras, mas o sentido é quase o mesmo.

Boa parte do filme se passa em Paris, que funciona como plano de fundo para a fuga de Michel e sua história com Patrícia. Sem tal pretensão, ou não, o diretor vende sem muito esforço uma imagem de fato lúdica da capital francesa - e os cafés? Coisa linda! Ultimamente (culpa de História, na verdade) venho desconstruindo o conceito, no qual fui educada pela mídia e seus processos ideológicos, de que apenas as manifestações artísticas bem elaboradas artificialmente são bonitas e boas, tenho aprendido que a verdadeira beleza está quase que exclusivamente nas coisas naturais. Godard me vendeu Paris no exato momento em que ao filmar o trajeto de Patrícia de volta ao seu hotel a Tour Effeil aparece ao fundo como quem não quer nada.

Foto: Maiara Alves

Acossado é tão simples e natural quanto o preto e branco comum no início da história do cinema, mas com um roteiro, tomadas e diálogos que não vemos com toda a tecnologia de hoje. É lindo não só por causa do ilustríssimo – parafraseando José Dias – Jean-Luc Godard ou por ser um dos mais comentados filmes da Nouvelle Vague, isso é apenas um detalhe muito importante haha, mas principalmente por ser simples e conseqüentemente lindo e nos despertar sensações agradáveis, sorrisos meigos como os de Patrícia ou as caretas espontâneas do Michel. 


Quotes

“No fundo sou burro, mas tem que ser.”
“Se não gosta do mar, se não gosta da montanha. E se não gosta da cidade... então que o diabo te carregue!”
“Não posso viver sem você.”
“Pode, sim.”
“Sim, mas não quero.”
“Não sei se estou triste por não ser livre, ou se não sou livre por estar triste.”
“O que quer dizer “em breve”? Um mês, um ano?”
“Em breve quer dizer breve.”
“As mulheres nunca querem fazer em oito segundos o que querem fazer oito dias mais tarde. Oito segundos ou oito dias são a mesma coisa. E por que não logo oito séculos?”
(...)
“Há qualquer coisa em você que eu amo, mas não sei o quê. Quero que sejamos como Romeu e Julieta.”
“Isso são mesmo idéias de mulher.”
“Está vendo! No carro disse que não podia viver sem mim! Mas pode! O Romeu não podia viver sem a Julieta, mas você pode.”
“Não, não posso viver sem você.”
“Isso é mesmo coisa de homem.”
“Sorria para mim. Vou contar até oito. Se até lá não sorrir, eu te esgano.”
“Entre o sofrimento e o nada, escolho o sofrimento.”
“O que você escolheria?”
“Sofrer é idiota. Prefiro o nada. Não é muito melhor, mas o sofrimento é um compromisso. Quero tudo ou nada. É o que sei agora, definitivamente.”
“Nós nos olhamos nos olhos e não serve de nada.”
“Me espelho nos seus olhos.”
“Qual é a sua grande ambição na vida?”
“Tornar-me imortal e, depois, morrer.” 
“No instante de um beijo o tempo é nulo. Ilusão, ilusão. A memória é uma garantia em pedaços.”
(...)
“Nenhum drama é tão perigoso e magnético. Nenhum detalhe pode tornar nosso amor patético.”
 “Dormir é triste. O sono obriga as pessoas a se separarem. Se diz ‘dormir juntos’ mas não é verdade.”
“Não quero estar apaixonada por você! Por isso telefonei para a polícia. Fiquei porque queria ter a certeza se estava ou não apaixonada por você. O fato de ser tão má para você prova que não estou apaixonada.”
“Repete isso!”
“O fato de ser tão má para você prova que não estou apaixonada.”
“Prova que não há amor feliz.”
“Se eu te amasse...”
“Se eu te amasse...”
“É muito complicado.”
“Pelo contrário, não há amores infelizes.”
“Não quero que falem de mim.”
“Não acredito na independência. Mas sou independente.”
“Talvez me ame.”
“Acha que me ama, mas não ama.”
“Por isso te denunciei.”
“Sou superior a você.”
“Para ser obrigado a fugir.”
“Não bate bem da bola. Essa argumentação é lamentável. Como as mulheres de que dormem com todo mundo, menos com aquele que as ama. Argumentando que dormiram com outras pessoas.”
“Por que não vai embora? Dormi com muitos, não deve contar comigo. Vai, Michel! Está esperando o quê?”

Trailer


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