domingo, 22 de julho de 2012

Nicolau Maquiavel - O Príncipe

Foto: Maiara Alves
De Principatibus
ISBN: 9788563560032
Autor: Nicolau Maquiavel (Niccolò Machiavelli)
Tradução: Maurício Santana Dias
Editora (Br): Companhia das Letras/Penguin
Páginas: 172
Gênero: Ciência Política/Política

Sobre: Ao longo de cinco séculos, o trabalho mais conhecido de Nicolau Maquiavel (1469-1527) deixou de ser apenas uma leitura de interesse político, para se transformar também em literatura obrigatória no currículo de historiadores, economistas, sociólogos, advogados e executivos. Na Florença do século XVI, Maquiavel escreveu, com texto límpido e elegante, não só um manual para a conduta de um mandatário, mas uma obra clássica da filosofia moderna, fundadora da ciência política, que é ainda uma esplêndida meditação sobre a conduta do governante e sobre o funcionamento do Estado. Mais do que um tratado sobre as condições concretas do jogo político, O príncipe é um estudo sobre as oportunidades oferecidas pela fortuna, sobre as virtudes e os vícios intrínsecos ao comportamento dos governantes. Suas observações sobre moralidade e ética permanecem espantosamente atuais.

Opinião: Ao contrário da descrição do livro, eu diria que a leitura de O Príncipe é obrigatória a todo e qualquer cidadão de qualquer Estado do mundo e não apenas à profissionais específicos, pois este manual descreve, talvez verità effettuale, o perfil político do homem - dominante e dominado - liberal capitalista. Machiavelli teve a oportunidade de acompanhar de perto alguns políticos e, a partir da observação de suas atitudes, descreveu como se dava efetivamente a ação política de seu tempo que se mantém "espantosamente atual" por dois motivos: porque ainda vivemos o modelo político que estava começando a se delinear na época e por ter descrito a postura que o governante deve ter nas relações políticas.

Acredito que o li no tempo certo: acabei de estudar História Medieval e, praticamente na semana que vem, começo a estudar História Moderna; muito superficialmente, é claro, não dá pra estudar tudo em um semestre (nem em quatro anos), mas dá pra ter uma noção mais ou menos ampla do que foram essas duas fases da história. Bom, o contexto do livro é a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna na Itália - mais precisamente em Florença, cidade natal de Machiavelli, Dante, Michelangelo e outros grandes homens notáveis. Não temos como datar exatamente quando se deu a passagem da Idade Média para a Moderna,  isso varia de historiador para historiador e conseqüentemente de sua orientação. Braudel, em A Dinâmica do Capitalismo, já enxergava neste período (fim da Idade Média e início da Moderna) vestígios do sistema econômico capitalista, baseado nisso acredito que a principal obra de Machiavelli é "espantosamente atual" por descrever o perfil político do homem dominante e dominado dessa sociedade específica, fruto do modelo "liberal capitalista".

Na capa do livro desta versão temos o Retrato de Lourenço de Médici (a quem o livro foi dedicado), pintado por Rafael Sanzio em 1518 - e não o próprio Machiavelli como eu pensava. Machiavelli era ambicioso, segundo consta no prefácio de Fernando Henrique Cardoso, e pretendia seguir carreira política, mas por não possuir os recursos que eram necessários para tal, buscou o poder através da intelectualidade, e conseguiu. Grafton ressalta as considerações de Felix Gilbert, de que Machiavelli apenas pôs no papel a política que já era discutida na esfera privada, tornando-a então pública e descrevendo-a como realmente era, e não como deveria ser, sendo considerado por estes motivos um renovador e sua principal obra um clássico. O teórico italiano é popularmente mais conhecido pela expressão que leva seu nome, "maquiavélico" do que por sua obra em si, embora esta tenha surgido delas. Lendo O Príncipe podemos entender o significado da expressão, bem como se dá as complexas relações políticas que vigoram até os dias atuais.

O livro traz muitos pontos que merecem ser destacados: a conduta do governante para com o povo, com seu exército, com governantes de outros territórios; considerações sobre guerras, moral, a importância da história, etc. Como todos os homens de seu período, Machiavelli percebeu que as coisas dependiam mais do homem que do poder divino, que o objetivo da política é organizar cidades para que o instinto egoísta intrínseco ao ser humano não as destrua, que o objetivo da ação política é o poder e que a dominação é um bem "Porque em toda cidade se encontram essas duas tendências opostas: de uma parte, o povo não quer ser comandado nem oprimido pelos poderosos, de outra, os poderosos querem comandar e oprimir o povo; desses dois desejos antagônicos advém nas cidades uma das três consequências: principado, liberdade ou desordem. (p. 77) O livro é incrível, a tradução de Maurício Santana Dias é bem simples e totalmente acessível a qualquer tipo de leitor, o recomendo não apenas por ser um clássico ou por descrever e explicar as relações políticas, mas por mostrar de uma forma generalizada o comportamento do homem em sociedade e quando relacionado ao poder. Seu conteúdo é discutido há mais de meio século, escrever sobre todas as coisas importantes que Machiavelli traz com meu limitado conhecimento de dezenove anos de vida e quase um ano de história é impossível, mesmo porque é importantíssimo que cada um reflita por si, independente de ser ou não um historiador, sociólogo, filósofo, executivo, letrado, advogado ou o Presidente da República, esta ou qualquer outra obra.

Quotes
"(...) pois sabiam que guerra não se evita, mas se adia em favor de outrem." (p. 53)
"Tampouco jamais apreciaram o que hoje está na boca de todos os sábios, ou seja, que se desfrutem os benefícios do tempo, preferindo antes seguir seu valor e prudência: porque o tempo arrasta tudo consigo e pode trazer o bem como o mal, ou o mal como bem." (p.54)
"O desejo de conquista é algo realmente muito natural e comum, e aqueles que têm exito na empreitada serão sempre louvados, ou pelo menos não criticados; porém, quando não têm força para tanto e querem realizá-lo a qualquer custo, aí reside o erro, daí decorre a crítica." (p.55)
 "Pois, além do que já foi dito, a natureza dos povos é inconstante, sendo fácil persuadi-los de uma coisa, mas difícil mantê-los nessa persuasão; portanto convém estar preparado para convencê-los pela força, quando já não estiverem convencidos por si mesmos." (p. 64)
"A crueldade bem empregada - se é lícito falar bem do mal - é aquela que se faz de uma só vez, por necessidade de segurança; depois não se deve perseverar nela, mas convertê-la no máximo de benefício para os súditos. Mal usadas são aquelas maldades que, embora a principio sejam poucas, com o tempo aumentam em vez de se extinguirem." (p. 76)
"Por isso as injúrias devem ser cometidas de uma vez só, de modo que, por sua brevidade, ofendam menos ao paladar; ao passo que os benefícios devem ser feitos aos poucos, para que sejam mais bem saboreados." (p.77)

"(...) respondo que um príncipe prudente e corajoso sempre será capaz de superar todas essas dificuldades, ora dando aos súditos a esperança de que o mal não seja duradouro, ora incutindo-lhes o medo da crueldade do inimigo, ora precavendo-se com destreza contra aqueles que lhe parecem ousados demais." (p. 82)
"No que diz respeito ao exercício da mente, o príncipe deve ler obras de história e nelas atentar para as ações dos homens ilustres, ver como eles se conduziram nas guerras e examinar as causas de suas vitórias e derrotas, a fim de evitar estas e imitar aquelas." (p. 96)

"Um príncipe sábio deve observar tais exemplos e nunca manter-se ocioso nos tempos de paz, mas aproveitar-se deles com engenho para poder agir melhor na adversidade; de modo que, quando a fortuna mudar, ele esteja preparado para resistir a ela." (p. 97)
"Porque, de modo geral, pode-se dizer que os homens são ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, avessos ao perigo, ávidos de ganhos..." (p. 102)
"(...) os homens têm menos escrúpulos em ofender alguém que se faça amar a outro que se faça temer: porque o amor é mantido por um vínculo de reconhecimento, mas, como os homens são maus, se aproveitam da primeira ocasião para rompê-lo em benefício próprio, ao passo que o temor é mantido pelo medo da punição, o qual não esmorece nunca." (p. 102)
"Mas o mais importante é abster-se dos bens alheios, pois os homens se esquecem com maior rapidez da morte de um pai que da perda do patrimônio." (p. 103)
"Aquiles e tantos outros príncipes antigos foram deixados aos cuidados do centauro Quíron, que os manteve sob sua disciplina. Isso quer dizer que, tendo por preceptor um ser metade animal e metade homem, um príncipe deve saber usar de ambas as naturezas: e uma sem a outra não produz efeitos duradouros." (p. 105)
"Se todos os homens fossem bons, este preceito não seria bom; mas, como eles são maus e não mantêm a palavra dada ao príncipe, este também não deve mantê-la perante eles." (p. 105)
" Mas é necessário saber camuflar bem essa natureza, ser um grande fingidor e dissimulador; e os homens são tão simplórios e obedientes às necessidades imediatas que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar." (p. 105)
"Os homens em geral julgam mais com os olhos que com as mãos; porque todos são capazes de ver, mas poucos, de sentir; todos vêem aquilo que você parece, poucos tocam aquilo que você é." (p. 106)
"(...) pois nunca se deve cair acreditando que haverá quem o levante mais tarde." (p. 130)
"(...) apenas são boas e certas e duradouras as defesas que dependem exclusivamente de você e de sua virtude." (p. 131)
"As únicas guerras justas são as necessárias, e tais armas são piedosas onde não há nenhuma esperança além delas." (p. 135)
 

2 comentários:

  1. Olá!!!

    Comecei a ler a obra mais famosa de Maquiavel há somente 2 dias e estou muito satisfeito. O livro, pela parte que já li, é realmente dos melhores no seu gênero. A tradução que leio, foi feita por Antonio Caruccio-Caporale.
    O livro ainda é muito aconselhável à todos que desejam ou precisam enriquecer o vocabulário.

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  2. Verdade, além de ser uma boa referência para entender a conduta dos governantes modernos e contemporâneos.

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